Na quarta edição do Festival do Fazer, nosso projeto ofereceu uma oficina de escrita. Com facilitação de Carolina Messias e Michelle Prazeres, a atividade teve como objetivo investigar e experimentar a nossa marca humana na comunicação com o outro.

Para nos encontrarmos com esta intenção, as organizadoras propuseram um exercício de escuta-escrita de duas horas, em que nos conhecemos, nos reconhecemos e nos escrevemos. O convite era para viver a comunicação como território reflexivo, onde nossa humanidade se expressa singular e coletivamente.

Com uma metodologia amparada na noção de ressonância (do sociólogo alemão Hartmut Rosa), a proposta colocou participantes em contato para uma escrita de celebração do Outro, que deu origem a uma carta-presente. 

 

 

Leia o artigo de Mi Prazeres e Carol Messias publicado na Revista Coaching Brasil, relatando o percurso de pesquisa no Projeto Humanizar a Comunicação.

 

“[Comunicar] trata-se de fazer o outro chegar perto da emoção e da força do vivido.” Ciro Marcondes Filho (2019, p. 26)

Quando observamos a circulação do termo “comunicação” acompanhado de adjetivos que reforçam suas qualidades subjacentes, entendemos que pode haver uma ponta de denúncia e outra de reivindicação. Denúncia de uma comunicação mecânica, automática e funcionalista que, adotada em excesso e sem reflexão, a instrumentaliza e embarga suas qualidades relacionais e humanas. Reivindicação, pois especialmente neste momento em que nos comunicamos nos mundos físico e digital, com inteligências artificiais e tecnologias pautando ou sendo veículos da parte de nossas ações comunicativas, é importante não perder de vista a serviço de quê e de quem está a comunicação.

A comunicação autêntica, como expressão, está presente em diversos estudos de: Educação e Linguística (desde a década de 1970), em análises de métodos de ensino que discutem questões em torno da “naturalidade” e do “artificialismo” dos materiais e exemplos usados em sala de aula; Psicologia com foco em relações familiares; e a partir dos anos 2000 no estudo de gestão organizacional com abordagem relacional. O sociólogo francês Philippe Zarifian conceitua o termo “comunicação autêntica” como “um processo pelo qual se instaura uma compreensão recíproca e se forma um sentido compartilhado, resultando em um entendimento sobre as ações que os sujeitos envolvidos são levados a assumir juntos ou de maneira convergente” (Zarifian, 2009, p. 165). Já no contexto brasileiro, desde 2015, a comunicação autêntica passa a se conectar com o conceito e a abordagem da Comunicação Não Violenta (CNV), com a difusão do trabalho da coach e mediadora Carolina Nalon.

Entendemos este chamado à autenticidade como um pedido de inclusão (resgate) da nossa subjetividade na comunicação e, portanto, de nossa humanidade em sua complexidade no modo como interagimos conosco, com as pessoas e com a sociedade.

Partilhar e transferir são os dois caminhos de sentido que a comunicação vem trilhando de sua origem latina communicare, os quais se bifurcam em abordagens m ais dialógicas e relacionais e outras mais informacionais e instrumentalizadas (Lelo, 2016). Será que é possível chegar a um ponto de encontro entre essas acepções etimologicamente divergentes? As expressões “comunicação autêntica” e “comunicação humanizada” nos sugere que sim.

Quando verdade, legitimidade e humanidade são convocadas nessas expressões, é porque a comunicação perdeu seu rumo em algum lugar dessa história. E temos algumas pistas hoje de onde ela ainda se perde: nas fake news, na exigência de produção e transmissão de conteúdo acelerada, nas relações tóxicas, abusivas pessoais e profissionais que usam comunicação como veículo de controle e punição, no nó na garganta que tantas vezes carregamos e não encontramos meios de desatar.

Trilhando o caminho da comunicação como diálogo, entendemos a comunicação como uma prática essencialmente humana. Então, faz sentido usar um pleonasmo como “humanização da comunicação” ou “comunicação humanizada”? Em 2019, começamos um percurso de pesquisa para responder a essa inquietação. Nossa intuição dizia que sim; fazia sentido pensarmos em modos de humanizar um processo que é fundamentalmente humano, mas que vem sendo campo de atravessamentos em função do contexto pós Web 2.0 e Quarta Revolução Industrial. Nesse contexto, relembramos a especificidade da comunicação no sentido que aponta Muniz Sodré:

Assim como a biologia descreve vasos comunicantes ou a arquitetura prevê espaços comunicantes, os seres humanos são comunicantes, não porque falam (atributo consequente ao sistema linguístico), mas porque relacionam ou organizam mediações simbólicas – de modo consciente ou inconsciente – em função de um comum a ser partilhado. (Sodré, 2014, p. 11).

Entendemos a comunicação enquanto práxis (ação-reflexão) que acontece no – e a partir do – encontro com o Outro. E que, por isso, realiza-se em uma determinada temporalidade, partindo de uma intenção e atravessando uma espacialidade até que se torne realidade. Comunicar é, sobretudo, a busca pelo vínculo, pela ponte, pelo sentido e pela ressonância. Como investigar um campo aparentemente tão subjetivo?

O pesquisador Ciro Marcondes Filho (2009) diz que a pesquisa em Comunicação é a investigação do ininvestigável, porque jamais se saberá o que é comunicado. Ela seria, portanto, avaliável apenas pelos seus rastros:

O ideal de um estudo comunicacional é aproximar, na medida do possível, o relato sobre o fenômeno vivido, o discurso linguístico, da vivência propriamente dita do acontecimento. (Marcondes Filho, 2009, p. 25).

Os objetos da comunicação, então, seriam o acontecimento (imanente, inerente) e os efeitos do acontecimento (transcendente). Só seria possível saber a comunicação do no movimento. E, nesse sentido, o verdadeiro não se limita ao verificável e acompanha os contextos.

Orientadas por esse entendimento, demos início à nossa investigação no campo da prática, partindo da hipótese de que o termo “humanização” poderia dizer respeito a algo que pode acontecer no processo, no uso (instrumental, ferramental, tecnológico) e/ou nos efeitos (ou rastros) da comunicação na contemporaneidade.

Para conduzir a nossa pesquisa observante e reflexiva, nosso primeiro movimento foi convergir nossas pesquisas individuais, sobre comunicação slow e comunicação autoral, em um olhar conjunto: compartilhando referências, discutindo abordagens e dialogando sobre modos de olhar e praticar a comunicação. Nosso objetivo era oferecer um olhar crítico e uma síntese de referências para as pessoas que buscam apoio teórico e prático para tratar da comunicação enquanto processo vivo, que tece as relações (e transformações) entre seres e cultura.

Entendemos que para investigar a comunicação com essa qualidade era preciso sair do diálogo entre duas e com as nossas fontes de pesquisa e partir para a observação do campo, dos modos de pensar, fazer e usar comunicação hoje. Entre junho de 2020 até abril de 2021, conduzimos um processo de escuta a partir de uma curadoria cuidadosa de vozes, informações e conhecimentos em torno de abordagens, componentes e elementos da comunicação em sua dimensão tocante ao humano. Hoje, temos mais de 770 minutos de material gravado em áudio e vídeo e nove relatos de entrevista registrados por escrito no site da iniciativa DesaceleraSP. Compartilhamos aqui alguns dos nossos achados dessa investigação ainda em andamento.

Buscamos ouvir abordagens, atributos e práticas dedicadas a um modo de comunicar brasileiro. Temos observado a riqueza desse mosaico vivo que é a comunicação em sua dimensão humana nas seguintes temáticas: a comunicação como diálogo (educação), a organicidade da comunicação, a comunicação assertiva e não violenta, a comunicação face a face no ambiente organizacional, a comunicação como ponte entre culturas (tradução/interpretação), a comunicação com consciência e artesanal, a contação de histórias como comunicação (fora dos contornos do storytelling), a comunicação jornalística e a diversidade, a  decolonialidade da comunicação, a comunicação multissensorial, a comunicação inscrita no tempo e a comunicação delicada.

Ao classificar os nossos registros, algumas palavras relacionadas ao universo de comunicação praticado pelas/os nossas/as entrevistadas/os dão outras pistas sobre os componentes da humanização da comunicação: ambientação, ambiente, amorosidade, visualidades, delicadeza, autoria, (de)colonialismos, face a face, multissensorialidade, slow, consciência, contexto, cuidado, design, diálogo, essência, fenomenologia, intenção, interpretação, memória, orgânico, escuta, espiritualidades, ponte, propósito, sentido, tecnologias, tempo, verdade e vínculo.

Nossa intenção não é chegar a um “checklist da comunicação humanizada”, nem propor um modelo nesse sentido. Queremos reforçar e dar a ver modos de comunicar e pensar a comunicação por brasileiras/os do nosso tempo, que refletem e atuam na resistência a uma comunicação massificada, padronizada, mecânica e pautada por contornos de uma sociedade acelerada, indexada pelas engrenagens tecnológicas e por um mercado que conduz a uma homogeneização e impõe modos de comunicar muitas vezes desumanos, associado a um contexto produtivista, transformando matéria de vínculo em mercadoria.

Até aqui, entendemos que buscamos um reencantamento da comunicação e que chegamos a um território reflexivo que se constituiu a partir da colheita que realizamos no processo de pesquisa e escuta, dando vida a alguns componentes que pensamos serem fundamentais para pensar a humanização da comunicação.

A tarefa que se apresenta na atual fase da pesquisa é a de organizar esses achados. Provavelmente, não chegaremos (nem queremos chegar!) a uma (nova ou renovada) definição de comunicação. Acreditamos que a pesquisa na arena das práticas comunicativas com essa qualidade humana possa apoiar a construção de ambientes de comunicação ancorados nas pessoas, amparados em confiança, com intenção de vínculo e de construção de diálogo. Esses ambientes comunicacionais humanos podem acontecer em empresas, organizações, salas de aula, grupos, famílias ou qualquer outro espaço composto por indivíduos que apostam na comunicação como prática organizadora do comum. Queremos, portanto, seguir compartilhando o terreno reflexivo fértil que encontramos, capaz de fazer germinar outras abordagens a partir dos aprendizados do percurso e das nossas inspirações e referências, a fim de sustentar a reivindicação de qualidades humanas para comunicação, como autenticidade e autoralidade, na prática e no tempo.

 

Referências bibliográficas

LELO, Thales Vilela. Faces do comum na comunicação: da partilha à disjunção. Galáxia (São Paulo). n.31 São Paulo Jan./Apr. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-25542016122028. Acesso em 21 abr. 21.

MARCONDES FILHO, Ciro. Nova teoria da comunicação, v. 1: o rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano, medial e tecnológico. São Paulo: Paulus, 2013.

MARCONDES FILHO, C. A Questão da Comunicação. PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM, [S. l.], v. 3, n. 5, p. 17–26, 2019. DOI: 10.31657/rcp.v3i5.87. Disponível em: https://fapcom.edu.br/revista/index.php/revista-paulus/article/view/87. Acesso em: 23 abr. 2021.

SODRÉ, Muniz. A ciência do comum: notas para o método comunicacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

ZARIFIAN, Philippe. Comunicação e subjetividade nas organizações. In: DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia Constant. Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 2009.

Sergio é professor, pesquisador e ativista social. É um dos mais importantes estudiosos da obra de Paulo Freire no Brasil e autor de “O EDUCADOR”, perfil biográfico de Freire (São Paulo: Todavia, 2019. 251 páginas).

Com simplicidade e delicadeza, Sergio nos contou sobre a sua ideia de comunicação, sustentada na concepção de diálogo, que só se realiza com confiança e que envolve algo fundamental para Freire: a amorosidade.

“Sempre achei que a comunicação é essencial enquanto diálogo”, afirma Sergio, contando que essa comunicação se confunde muito com processos de aprendizagem de toda natureza e que este exercício tem que ser permanente. “Entendo que muitas vezes até pelo acelerado da vida e pelo padrão cultural da sociedade brasileira, a comunicação é vertical, uma rua de uma mão só”.

Ele afirma que é preciso vencer as barreiras para exercitar uma comunicação freireana; e conta que a grande experiência que teve nesse sentido foi em seu trabalho com Educação de adultos (Em 1974, Sérgio assumiu a direção do então curso supletivo de 1º e 2º graus, recém-criado no Colégio Santa Cruz – São Paulo). “A EJA nos apresenta mundos muito diferentes e aprendemos muito com isso”.

 

Ele conta que nas aulas no “Santa”, costumava chegar mais cedo, sentava no pátio e observava as pessoas chegando. “Elas sempre tinham histórias e contavam… a gente sabia um pouco da vida de cada um, como chegaram em São Paulo, de onde são, com que trabalhavam, o que gostam de fazer no fim de semana, de que tipo de lazer gostavam. Ao fazer conversas assim, você entra num mundo que não é seu e que é um espaço de aprendizagem”, diz.

 

Ele pensa que a chamada “comunicação de massa” vem aprendendo com o universo da digitalização a abrir espaços para espectadores. “Hoje, a gente vê os jornais e os programas de TV mudando formatos e abrindo para conteúdos enviados pela audiência. É uma tentativa de fazer uma comunicação como diálogo”.

 

Diálogo e confiança

 

Se não há diálogo, existe algo – e não tem nada de errado em não haver diálogo – , mas a comunicação só se estabelece na medida em que há diálogo com o outro: é o que defende Sérgio. Ele conta que existem momentos em que a transmissão é importante e tem seu lugar (como nas aulas expositivas), mas para haver comunicação é preciso sempre existir esta dupla mão.

 

O efeito do diálogo é de autoreforço: o diálogo constrói o diálogo, afirma Sérgio. E isso acontece na medida em que as pessoas vão ganhando confiança para o diálogo.

 

Ele dá um exemplo sobre a atividade do pesquisador. “Tenho uma orientanda que está fazendo uma pesquisa sobre o Benefício de Prestação Continuada e o quanto a educação se relaciona com a condição de pobreza. Ela foi fazer a parte empírica da pesquisa e não conseguia obter nenhuma informação das pessoas. Ela precisava ganhar confiança, conversar sobre coisas da vida, até construir um laço de confiança”.

 

“O diálogo constrói diálogo, porque há confiança. Há troca. Nesta situação, ela precisaria contar coisas sobre ela. Não pode só querer tirar informação do outro”, afirma. Ao mesmo tempo, ele adverte: “Diálogo é importante, mas não é suficiente. Falta teoria de um lado e prática do outro”.

 

Por isso – afirma – é famosa a frase de Freire “ninguém educa ninguém sozinho; as pessoas se educam em sociedade”, em diálogo com a realidade.

 

Para que o diálogo se transforme em construção de conhecimento, é preciso ter “pé” no real, na vida das pessoas. Freire traz realidade nos processos educativos de diálogo entre educador, educando, interlocutores. “É um diálogo que se constrói em cima da realidade. Não é só um achismo. E é aí que entra a teoria”, explica. Para Freire, a teoria é uma reflexão sobre o mecanismo de diálogo entre a pessoa e a realidade, a pessoa e o Outro.

 

Os elementos teóricos ajudam a compreender o produto do diálogo de maneira a iluminar essa troca para seguir em diante, fazer história, lutar por direitos. “Freire nunca foi uma pessoa alinhada a uma teoria específica. sempre foi uma pessoa que utilizou de determinadas teorias para resolver o problema da relação dele com a realidade, com a praxis. A praxis precisa de uma teoria que ajude na sua compreensão”, explica Sérgio. Para Freire, a teoria nasce do encontro com o Outro.

 

É deste ponto que advém a crítica de Freire à Universidade. “A universidade inspira conceitos, mas se as pessoas não conseguem usar estes conceitos para entender sua vida, eles servem como discursos, que são decorados para serem usados em textos. A teoria, então, tem essa vocação, de ajudar a compreender o mundo e é interiorizada, na medida em que ajuda a entender o mundo, sendo explicativa”.

 

Comunicação organizadora do comum

 

Sério aponta “uma questão de fundo” para Freire: o comunicador é um ser humano. Esta base vem do cristianismo renovador dele. Dá conta de que todo ser humano é capaz de aprender e ensinar, diferente de outros seres vivos, que vivem de outra maneira e tem outros níveis de aprendizagem, mas sem a amplitude do ser humano. “Se todo ser humano é capaz de aprender e ensinar, cada um vai construir sua história e sua vida com estes processos de aprendizagem e fazer história na medida em que a história de cada um somada à história de todos vai fazendo história em sua dimensão política.

 

E tem ideia da amorosidade, uma ideia fundamental para Freire. “Ele acreditava que é preciso respeitar o próximo, a natureza, o outro de maneira geral como seu interlocutor. Por isso que ele faz a discussão que faz sobre cultura. Ele mostra – fazendo diálogo com seus alunos no método – que todo mundo é capaz de cultura, de produzir conhecimento. Quando Freire foi pro Chile, ele começou a trabalhar com camponeses e aprofundou sua reflexão sobre o diálogo e a troca de saberes. Ele conta que os camponeses perguntavam ‘mas doutor, como vamos trocar saber?’ e ele fazia um jogo, onde os alunos perguntavam para ele sobre coisas”. Ele fazia perguntas que os alunos respondiam e os alunos faziam perguntas que ele respondia. E nem sempre ele sabia as respostas certas para perguntas como “sabe como planta batata baroa? sabe a influência do tempo para a produção do tomate?”.  “Freire começava mostrando que o conhecimento está nas pessoas, para valorizar a ideia do ser humano como capaz de aprender e ensinar, seja a forma deste processo uma aula, uma conversa entre pai e filho ou por observação (como acontece nas tribos)”.

 

Quando perguntamos a Sérgio se ele vê ligação entre a sua prática e a comunicação, ele conta que foi trabalhar com Educação de Jovens e Adultos quando a doutrina freireana já o havia tocado. “Estudei em uma escola de elite. Quando vivíamos a influência da teologia da libertação, chegaram os alunos da EJA, mais pobres, e a tendência era de uma postura assistencialista, como se fôssemos “salvá-los”. Vem daí minha conexão com esta comunicação do diálogo. Da relação que se estabeleceu para criarmos o curso de EJA numa perspectiva de diálogo”.

 

Sérgio conta que – em paralelo – descobriu o movimento social, as pastorais. Ele lembra um trabalho de educação popular que realizou no Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) – organização da sociedade civil, que deu origem à Ação Educativa e ao Instituto Socioambiental . “Fizemos um trabalho com saúde, mapeamos as principais preocupações das pessoas de uma região da cidade, com experiencias construídas por elas mesmas. Da pesquisa, nasceu um banco de formas de cura baseado em formas de saúde popular. Aí, tem diálogo, conhecimento, aprendizagem, pesquisa de troca e informação e também de organização para a luta. Daquela atividade, saíram reivindicações para ter posto de saúde no local e outras pautas de ação política”. Sérgio conta que é desta prática no CEDI, na Ação Educativa, no curso de EJA que foi se moldando uma forma de agir. “Eu acho que a vida fica melhor assim”, diz.

 

E ancorado nesta afirmação, ele conta que precisamos hoje nos empenhar num esforço coletivo por uma comunicação mais dialógica. “Como sair da ideia de comunicação de massa para a ideia de um círculo de cultura, como Freire defendia? Porque faz todo sentido. E nesse processo de humanização, entra também o esforço de diálogo com a diversidade, porque não adianta ter só um mecanismo de comunicação pensado por pessoas brancas, de uma determinada classe social”.

 

Para encerrar nossa conversa, perguntamos para Sérgio que dica ele daria para um(a) educador(a) que deseja exercitar uma comunicação mais dialógica na sua prática educativa. Eu perguntaria o que ele aprendeu até agora”, ele diz. “Provocaria um esforço de olhar para dentro. Se um educador me contar que não aprendeu nada, é porque a coisa está ruim. Então, eu perguntaria: o que você aprende no cotidiano? O que seus alunos te ensinaram?”.

 

Conversar com Sérgio é sempre uma aula freireana sobre Paulo.

 

>>> Ele ainda nos contou que no começo da sua pesquisa, Freire escrevia sobre “comunicação popular” e somente depois de “Pedagogia do Oprimido” começou-se a se usar a expressão “Educação Popular”. Uma menção mais direta à comunicação acontece no livro “extensão ou comunicação?”, em que Freire faz uma crítica direta ao extensionismo (a ideia que de se leva conhecimento a uma pessoa ou a um grupo).

Foto de Johnny Chen, via Unsplash

 

“Comunicação é meu oxigênio”. E, de fato, a jornalista e professora de redes sociais, Paula Ribas, é a comunicação em pessoa, viva, pulsante. Em nossa entrevista, em 27 de outubro de 2020, ela contou a sua trajetória que conecta arte, comunicação, o interesse por pessoas maduras e a vida digital. 

Viver a comunicação 

“A comunicação é fundamental para a minha existência. É nesse lugar que ela está para mim; um lugar de essência, de necessidade de expressão e de dar ao outro a oportunidade e o direito à expressão, seja por escrito, por vídeo, por foto, por pintura… eu facilito e favoreço o direito à expressão. A comunicação é para mim o sentido de estar viva”. É assim que a jornalista Paula Ribas inicia sua resposta do que é comunicação para ela.

A partir desta definição contundente da comunicação como a própria seiva da vida, parecia não fazer sentido perguntar como Paula exercita na prática a comunicação, já que esta seria uma totalidade. Mas ela explica que hoje esta premissa a orienta em seu fazer: ela oferece mentoria de comunicação para pessoas, empresas e grupos que precisam de apoio para se integrar à vida nas redes. “Na pandemia, visualizei que eu precisava oferecer uma espécie de atendimento de emergência, uma enfermaria de comunicação, para apoiar as pessoas no processo de transitar para a vida digital”.

“Encontrei meu cardume” – comunicação e propósito

Ela nos contou um pouco de sua trajetória profissional: “eu trabalhava com política, um ambiente muito hostil, que eu gostava, porque adorava ser competitiva, enfrentar crises diárias. Eu era boa nesse jogo, na manipulação. Aprendi a fazer isso muito bem. Mas eu me exauri nesse lugar, fui perdendo tempo, saúde, sanidade e espiritualidade para os jogos de poder que eu adorava, porque fazia bem. Eu tive que escolher entre a paz e o dinheiro e o prazer de jogar. Fui fazer pós-graduação na Cásper, porque estudar na Cásper era um sonho desde que me formei na Anhembi Morumbi. A pós abriu meu caminho e me pôs no meu lugar. Encontrei meu cardume, minha tribo, minha alcateia. Eu estava sofrendo, porque estava no lugar errado”.

Paula conta que as pessoas, o ambiente e os conhecimentos com os quais entrou em contato na formação da Pós a fizeram perceber que ela não tinha que mudar de profissão, mas sim de ambiente e de projeto de vida. “Achei pessoas certas. Professores e alunos que me ajudaram a transitar e a estar no lugar em que estou hoje, trabalhando com comunicação para quem quer fazer deste lugar um lugar melhor: comunicação para quem tem propósito, projetos humanos; para quem quer olhar para a vida, para a continuidade da vida. Para quem quer desfrutar do direito de se viver do jeito que se é”.

Ela conta que não tem mais os salários que tinha quando trabalhava na política, trabalha mais, mas se sente feliz e realizada. “Os boletos existem, mas reconfigurei minha vida para gastar o mínimo possível tendo qualidade de vida. É um trabalho de formiguinha esse de dar chão para as pessoas na comunicação”.

Na Metade do Livro – para navegar no mundo digital

Paula é idealizadora do Na Metade do Livro, um projeto de conteúdo voltado para pessoas (especialmente mulheres) maduras, que tomou a forma de um canal no youtube. “Minha força é comunicação em vídeo. Fui atriz de teatro e televisão. Trabalhei em novelas, fiz muito cinema publicitário… no canal de Youtube, me encontrei. Minha pesquisa me ajudou a compreender o que eu estava fazendo e minha preocupação com as mulheres de mais de 40, um público que não recebe um tratamento saudável de comunicação. E isso foi se transformando. O projeto e a pesquisa sobre ele foram o grande celeiro para o que faço hoje”.

Hoje, Paula oferece mentorias para projetos e produtos online e ajuda as pessoas a migrarem os trabalhos (ou adaptarem ou criarem novos produtos) para o digital. Também faz processos de branding. “Precisei abrir mão dos meus projetos pessoais para abrir a enfermaria da comunicação na pandemia. As pessoas chegam para mim com sofrimento, com dor de se expressar em vídeo. E eu fico atravessando as pessoas, pequenas empresas e equipes para o outro lado do rio, para o mundo digital”. 

“Hoje, tenho clareza de que encarnei para fazer o que eu faço: juntei a pesquisa e o interesse pelas pessoas maduras com os códigos do mundo digital. A tudo isso, ainda acrescento minha alma de artista. E tenho certeza de que todo preparo com arte e comunicação foi para me ajudar a capacitar as pessoas a viverem neste momento. É algo mágico”.

Por uma comunicação orgânica

Sobre a humanização da comunicação, Paula conta: “Há uma artificialização que tem contaminado as pessoas, um monte de gente iludida achando que impulsionar post vai vender e entregar o que elas querem. Em contraposição a isso, tenho chamado o que eu faço de comunicação orgânica, com consciência. Esta comunicação pode usufruir das ferramentas, das hashtags, da rede, mas para fazer, é preciso estar afim de tomar conta do que é seu e de se responsabilizar pela sua própria comunicação”, explica.

Sobre a ideia de organicidade, Paula conta que hoje está morando na praia e que a natureza tem se apresentado de uma forma muito potente. “Estou entendendo diversas conexões com a comunicação. A natureza que está em nós consegue fazer as conexões de que precisamos. Quando quero me inspirar, eu olho para a natureza. Ela vai responder. Na natureza que nos habita, tudo é sinal, rede e conexão”.

 Como esta comunicação orgânica, consciente e conectada com os sinais da natureza, Paula busca encorajar as pessoas a “se expor sem temer”. Ela explica que não se trata de um treinamento técnico, ainda que exista técnica “mas sem segredo”. “Eu conduzo as pessoas a aceitarem a sua imagem, o som da própria voz, as cicatrizes, as rugas, o fato de que estão fora do padrão. É um trabalho de aceitação de quem a gente é e aparenta ser”. Depois, vem o trabalho com a expressão. “Eu gravo cinco vídeos e o melhor vai para o ar. Mesmo sem estar bom. Mas é o melhor. Assim, vou trabalhando a musculatura da autoestima e da aceitação. Estimulo as pessoas a postarem estes conteúdos e a ouvirem o que as pessoas têm para falar”. 

Ela conta que é comum as pessoas chegarem em busca de temas ou recortes de temas. “Apoio as pessoas a encontrarem os temas que estão dentro delas, colados com elas. Já revelei para uma pessoa que ela era um líder. Para outra, contei que ela era influenciadora. Funciono como um espelho na mudança de degrau da vida destas pessoas. Presto atenção nelas, olho para elas e ajudo elas a darem nome para o que fazem e são”, conclui.

Como citar: RIBAS, Paula. Paula Ribas e a comunicação orgânica e com propósito. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 24 set. 20. s. p.

“O quanto eu posso afetar a pessoa por algo que posso transmitir a ela?” – este foi um dos muitos pensamentos inspiradores sobre comunicação que a especialista em comunicação não violenta, Elisa Tredicci, trouxe para nossa conversa no dia 13 de outubro de 2020. Neste relato, você conhece a abordagem e o trabalho da facilitadora e mediadora de conflitos dentro e fora das organizações, sua concepção de comunicação que é resultado, não intenção, e a importância do recurso da escuta e o tempero do amor na comunicação assertiva. 

Elisa é facilitadora de aprendizagens e consultora organizacional e se interessou pela comunicação com mais profundidade quando tomou contato com a Comunicação Não Violenta como abordagem.

“Percebi que já era algo com que eu trabalhava nas empresas que eu atendia, porque sempre trabalhei com grupos. A partir da CNV, diagnostiquei que muitas questões que eu trabalhava nas empresas eu começava a resolver por como as pessoas de relacionam, nos setores, líderes com equipes, equipes entre si. O trabalho não era puramente comunicação, mas sempre tinha uma semente de comunicação”, explica.

Ela começou então a chamar seu fazer de “programas de humanização ou desenvolvimento de equipe ou de liderança” e a atender diversos tipos de clientes – com maior ou menor grau de formalidade. “Vou adequando o que cabe para cada lugar”. Ao longo de sua jornada profissional, foi percebendo entre gestores uma inabilidade de trazer a comunicação como chave para a resolução de questões. “Estou falando de liderança, porque em geral os ambientes e as equipes são o espelho do que é a cultura do lugar e das relações entre as pessoas. E, em geral, as equipes são a cara do gestor”.

Seus programas visam fazer com que as pessoas se sintam vistas e escutadas, para que sintam que os outros confiam no trabalho delas, para que exista um entendimento do papel de cada pessoa. “Isso vai “amolecendo”, tirando camadas, e as pessoas vão se olhando além dos rótulos dos crachás e se olham com humanos”, explica Elisa. As interações que tende a provocar na facilitação intencionam conectam as pessoas em alguns lugares. “Uma das formas de começar os programas é conectar com a criança de cada um ou com a ancestralidade. Vou trazendo memórias, que quando as pessoas contam, já passam a receber outro olhar”.

A partir destas abordagens, ela vai trazendo conceitos da comunicação assertiva e não violenta. Ela explica: “Ser direto ao ponto não é ser agressivo. Se você traz uma base de CNV, consegue ser assertivo sem receio de que vai causar algo nas pessoas”.

Uma comunicação que gera entendimento e é resultado

Para Elisa, comunicação é “conseguir ser eu mesma a partir da minha verdade de forma que as pessoas entendam. Comunicação não é intenção, é resultado. É também minha responsabilidade trazer algo para que a pessoa entenda. Quando eu falo algo, falo a partir de uma imagem que está dentro. Quem escuta espelha o que eu falei e cria uma imagem própria, que pode ser totalmente diferente do que eu tentei transmitir. Como, sabendo desse espelhamento, consigo trazer algo de forma assertiva com cuidado e intenção de ser cuidadosa para que se receba a mensagem que eu quero transmitir? Posso também checar se você entendeu o que eu quis dizer”.

Em síntese, seria o ato de conseguir trazer a imagem que vem de dentro com cuidado de modo que a outra pessoa entenda; e checar com a pessoa para saber se ela captou o que se quis transmitir. “Se eu não fizer isso, eu abro a porta para infinitas interpretações. Aí, pode ser comunicação mas será que é assertiva?”, questiona Elisa.

“Falar a verdade com amor”

A ideia de comunicação humanizada ou de humanizar a comunicação faz sentido para Elisa. “A comunicação humanizada é com menos ou nenhuma dureza ou frieza. Uma fala só direta ou só assertiva, sem calor. A Comunicação Humanizada é com cuidado e amorosidade. Isso não quer dizer necessariamente que eu tenho que amar a pessoa. A amorosidade vem de mim. E não do que eu possa sentir por alguém. É falar a verdade com amor”, diz.

Ela admite que este é um desafio em um mundo marcado por dualidades. E quando o outro não tem disposição para a ressonância? “Com a CNV assertiva, tive a constatação de que exige um esforço cerebral permanente escolher falar assim, porque não é automático. Essa parece ser, para mim, a conexão com o slow: é parar, respirar e poder agir. E não agir orquestrada pela emoção e o impulso”, explica Elisa.

Elisa traz também a referência de comunicação presente na teoria U. Segundo esta teoria, a comunicação acontece em quatro níveis de escuta, como ela resume:

  • “No 1º nível, acontece o downloading. É quando a pessoa presta pouca atenção. Isso se dá, porque a pessoa já tem um julgamento ou opinião sobre aquele tema que está sendo tratado. O cérebro “desliga” e a pessoa oferece uma escuta passiva.
  • No 2º nível, acontece uma escuta factual. A pessoa começa no 1º nível, mas alguma palavra ou termo chama atenção e ela se conecta. Algo refuta a curiosidade para que ela preste atenção. A pessoa começa a escutar com um pouco mais de atenção. É um estado de mente aberta.
  • No 3º nível, acontece a escuta empática. A pessoa se conecta emocionalmente. É um estado de coração aberto.
  • No 4º nível, acontece a escuta generativa: mente aberta, coração aberto e vontade aberta. Neste nível, a presença está tão presente, que é possível se conectar com o que emerge daquela conexão.”

Não é mais uma soma de expressividades, mas comunicação. Algo que emerge do entre. “É como se houvesse uma cocriação. Apenas pela escuta, eu apoio a pessoa a transformar ideias, porque ela está falando comigo e sendo escutada”, explica Elisa. Esta abordagem permite nos perguntarmos “o quanto eu posso afetar a pessoa por algo que eu posso transmitir para ela?”.

Para Elisa, quando começamos a praticar, sabemos voltar para esse lugar que se constrói na escuta generativa. “Talvez a necessidade não atendida da pessoa é apenas falar. Precisamos ter consciência de que podemos afetar o outro inclusive com o nosso silêncio de escuta presente. A escuta é o grande poder”. A ideia do thinking environment, lembrada na conversa, é essa vontade de aprender e escutar o outro. Para Elisa, a intenção está relacionada com a vontade de escutar o outro e de falar de forma que o outro entenda. “É uma vontade de dissolver o conflito”. Ela resume: “É o COMO. Como criar melhores condições de diálogo com ferramentas, consciência e autoconhecimento”.

Elisa indica caminhos para quem busca humanizar a comunicação: consciência e aprendizagem. “Só aprendemos algo quando se transforma em ação, se não, isso é apenas uma informação que você colocou para dentro. É muito mais fácil quando se pratica”, explica. Ela conta que a informação pode chegar por um livro, um vídeo, um artigo… mas que é preciso tomar consciência e começar a praticar para que de fato aquilo se torne um aprendizado. “Por isso, nos meus grupos, faço com que as pessoas experimentem. Apenas vivenciando elas enxergam que é possível e seguir fazendo. É preciso praticar o que se sabe e ter a vontade aberta para ver o que mais surge”.

Quando convidada a adentrar a questão prática, Elisa aponta a sensorialidade como um componente importante para que a comunicação aconteça. “Coloco as pessoas de frente uma para a outra. Já fiz isso com executivos. Eles se emocionaram no lugar da escuta que tinham que se olhar. Precisamos lembrar que temos tecnologias humanas milenares de acesso pleno. O olhar é uma delas. A forma como se olha para quem está falando, o toque, o abraço quando existe abertura para isso…”. O olhar e a escuta mostram muito. São constatadores da presença”.

 

Como citar: TREDICCI, Elisa. Elisa Tredicci e a comunicação assertiva e não violenta. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 13 out. 20. s. p.

 

Anna Lígia Pozzetti é intérprete e tradutora e atua como construtora de pontes entre culturas. Economista de formação, ela pratica mediação cultural ao emprestar a sua voz (incluindo também sua postura, seu corpo, seus sentidos e muita pesquisa!) para pessoas que precisam ter as suas mensagens compreendidas em outro idioma. Ela trabalha especificamente com a ponte entre dois países e suas culturas: Brasil e Japão.

“Meu ofício é comunicar em um idioma diferente. Preciso passar ideias, mensagens, raciocínios, em outro idioma. Não traduzimos palavras. Usamos o que está por trás das palavras. Muitas pessoas não conseguem, porque é preciso esperar uma unidade de sentido. Acompanhar o raciocínio. Sempre estamos alguns segundo atrás, ouvindo, falando e nos monitorando, para ver se o tom está adequado e equilibrando todos os esforços cognitivos ao mesmo tempo”, conta Anna.

Ela explica que um idioma é uma cultura. Então, ela trabalha transitando de uma cultura para outra. “Dependendo da situação, precisamos fazer adaptações. Esse é o trunfo de sermos pessoas e não máquinas. Precisamos fazer pontes. A estrutura gramatical do japonês é diferente da do português. Precisamos nos descolar das estruturas gramaticais para fazer um texto que faça sentido, que seja fluido. Por isso, trabalhamos colados nas palavras, mas desconfiando delas”, diz a tradutora.

O processo de trabalho de uma intérprete começa com um ingrediente fundamental da comunicação: o cuidado. “O processo pode ser estressante. Muitas vezes, temos que estar no palco, então a preparação é o segredo, tanto para a interpretação simultânea quanto para a consecutiva. Eu interpreto muitos arquitetos, ceramistas e artistas. Normalmente não recebo material com antecedência, o que seria o ideal. Então, eu preciso me preparar para conseguir transmitir a mensagem e a intenção daquela pessoa. Quando recebo o nome ou o tema, eu mergulho naquele universo”, explica.

A antecipação permite que a comunicação flua no tempo certo. Anna conta que algumas pessoas que ela interpreta não dispõem de tempo para estar com ela antes, sobretudo em eventos, quando profissionais vêm do Japão com a agenda apertada por conta da viagem e de outros compromissos. Para enfrentar esse desafio de conhecer a personalidade que vai interpretar antes do evento ou reunião, Anna busca se antecipar pesquisando sites, vídeos e redes sociais para captar os gestos, o tom, a forma de falar, expressões que a pessoa usa mais comumente.

A importância performance para fazer a ponte entre culturas

Anna explica que precisa, de alguma forma, “entrar na cabeça da pessoa” para interpretá-la. Para isso, os inputs sensoriais são imprescindíveis.

“Já interpretei pessoas famosas, chefes demitindo funcionários, grandes empresários globais. Todo mundo tem algo importante para falar. Quando estamos todos no mesmo ambiente, já é desafiador. Hoje, pelo digital, só temos a voz. Então, está sendo muito importante trabalhar a modulação da voz. É um trabalho de performance. […] Tem interpretações que eu faço em pé, porque não tem como fazer sentada. Fiz uma coletiva de imprensa de um campeonato de futebol. Não cabia ficar sentada. Às vezes, para incorporar a mensagem, é preciso incorporar este gestual”, conta Anna Ligia.

Quando trabalha com eventos, ela explica que sua intenção na interpretação é que as pessoas que usam o fone de ouvido para acompanhar as palestras tenham a mesma experiência de quem está acompanhando os palestrantes no idioma de origem. “Preciso fazer com que a pessoas se comuniquem da maneira mais natural possível do lugar de invisibilidade do intérprete”, explica.

O glossário são os tijolos da ponte

Parte do cuidado para que exista relação de ressonância entre as pessoas que estão envolvidas na comunicação – e para a qual Anna busca construir as tais pontes – envolve a montagem de um glossário com termos e expressões que a pessoa a ser interpretada usa. “Eu estudo esse glossário, o tempo da fala da pessoa, as expressões que ela usa, sua idade, se é uma pessoa mais extrovertida ou mais fechada, mais séria… e vou fazendo ajustes de acordo com a pessoa e o público com quem ela vai falar”.

O glossário que a intérprete prepara a cada trabalho são como os tijolos da ponte que vai conectar as culturas e abrir caminho para que a mediação aconteça. Trata-se de um esforço de reconhecimento prévio para que a comunicação possa fluir, com o desafio de ela não acontecer no mesmo idioma. 

“O intérprete deve ter um respeito muito grande pelo interpretado e, ao mesmo tempo pelo público que está ouvindo. Quando trabalhamos, estamos sendo esta ponte de comunicação e precisamos garantir uma experiência da qual todos saiam com a mensagem clara”, afirma.

Tradução automática X tradução humanizada

Anna acredita que as máquinas podem ser auxiliares em processos de tradução, mas que não são capazes de atuar como intérpretes como os humanos. E aí talvez esteja a conexão com a ideia de comunicação humanizada.

“O gestual está envolvido. Preciso ter contato visual com quem estou interpretando. Preciso olhar e colocar o que estou vendo na minha voz. No gestual, a cultura japonesa é muito diferente da brasileira. Por exemplo, eles têm um gesto que é claro que é um “não”. Eu, ao conhecer a cultura deles, posso auxiliar um cliente que me contratou a entender melhor esse gestual. Existem aspectos de nuances que tem num idioma e não tem no outro e que a máquina não é capaz de interpretar”.

Ela explica que o japonês é idioma contextual e que dizer um simples “oi” pode depender de com quem você está falando, o horário do dia, o tempo que faz desde que você encontrou aquela pessoa pela última vez, entre outras questões. “É preciso contexto. O Google tradutor faz um ótimo trabalho de facilitar a entender coisas básicas, mas jamais se deve usar para publicar ou conversar, pois você pode estar cometendo uma gafe de quebra de hierarquia, de falta de respeito e de sensibilidade. Existe na interpretação um aspecto linguístico e cultural”, pontua a intérprete.

“É preciso ler o ar”

Para traduzir esta ideia, ela usa uma expressão comum no Japão: é preciso ler o ar. Na comunicação que envolve pessoas, é preciso star atento(a) ao ambiente. “Uma vez eu traduzi o código de conduta de uma empresa. Aparentemente, é um conjunto de frases estruturadas, que posso jogar no tradutor e ele vai me entregar algo minimamente organizado. São procedimentos. Mas neste projeto que eu estava, era com um cliente antigo, com quem tenho liberdade de falar que havia um ponto que precisava ser revisado. Era uma norma de vestimenta que listava “erros” tipicamente femininos, como saia curta, decote e transparência. Questionei se era uma norma voltada apenas para mulheres e eles tiveram a oportunidade de criar uma regra voltada para todos os funcionários, sem distinção de gênero”. Em situações como esta, se usarmos o tradutor, a comunicação perde estas matizes.

A comunicação humanizada para Anna é aquela que “leva em consideração a cultura”, não como algo hermético; não como uma caixinha de estereótipos, mas como algo relacional, relativo. “A cultura aponta para os registros que devemos usar para nos comunicar. De que cultura preciso me aproximar e para qual preciso apontar? A partir do momento em que se consegue se comunicar com alguém levando em conta a cultura, você consegue ser mais empático e fazer adaptações”.

A questão que a move como intérprete é “como na postura como intérprete conseguir passar uma imagem e fazer uma comunicação que seja pacífica e harmônica, fazer pontes de palavras, conceitos, ideias, de forma que faça sentido”.

Entrevista realizada em 22/9/2020 e registrada por Carolina Messias e Michelle Prazeres. Para conhecer mais o trabalho da Anna Lígia Pozzetti, acesse o site da Komorebi Translations.

 Ilustração do destaque: 十人十色」“10 pessoas, 10 cores”,  da ilustradora Anna Charlie para o Projeto Kotowaza, inspirada em provérbios japoneses.

 

Como citar: POZZETTI, Anna Ligia. Anna Lígia Pozzetti e a comunicação como ponte entre culturas. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 22 set. 20. s. p.

 

O encontro com o facilitador de processos grupais, Paulo Henrique Corniani, aconteceu em 18/8/2020 e dela extraímos os aprendizados que compartilhamos neste registro. E usamos encontro em vez de entrevista, pois esse é o grande mestre que rege a vida de Paulinho (para os chegados e para quem, de fato, o encontra). Depois de vozes femininas brasileiras, queríamos ouvir a voz de um homem que pensa e trabalha com comunicação e cultura, com uma pegada decolonial. Ele nos ofereceu seu olhar sobre sua prática com grupos e contou que, para ele, a comunicação é linguagem, é a forma de se expressar no mundo e que, portanto, ele não consegue diferenciar o que produz do que comunica. “Produto e produtor: um carrega um pedaço do outro”, disse. A coerência é o que rege essa relação entre produto e produtor, realiza-se na intensidade da intenção e dá certo quando se converte em prática. Provocador em suas falas, trouxe diversas questões interessantes para pensarmos juntos: “O que é a comunicação dar certo? É ela terminar e terminar acontecendo”. Ele acredita que “humanizar” a comunicação se trata de um processo de “regeneração”. “Quem se expressa com consciência sobre a sua intenção, começa a ter generosidade para a intenção do outro. E aí vem a escuta. Escuta se aprende. Como? Gerando interesse. É preciso que provoquemos interesse no outro. Se você não provocar seu interesse no outro, você só vai estar perante ele. E como se gera interesse? Se conhecendo”. Convidamos você a se encontrar com Paulinho neste relato (ora descritivo, ora literal, pois procuramos conservar falas suas que mais nos reverberaram reflexões):

Comunicação: usos e expressões

Paulo Corniani é facilitador de processos grupais com foco em aprendizagem e desenvolvimento humano. Atua com grupos com vários temas ligados ao autoconhecimento e dedica-se há quase uma década a um projeto autoral de coordenação de um grupo espiritual (não religioso). É Sociólogo de formação e pesquisador de Ontologia da Linguagem. “Tenho várias faces. Como me apresento depende sempre do contexto”, ele diz. A sua definição mais poética é “um homem latino-americano buscando entender as coisas”, e explica:  “Tudo que a gente precisa afirmar, é porque existe uma questão na afirmativa. O fato de ser latino-americano diz do que falo, do que penso, da minha subjetividade, da minha grupalidade, das minhas crises, vulnerabilidades e potências”.

Ele conta que o mestre regente da sua vida é o encontro, e que esse mestre tem na linguagem uma de suas facetas. “Toda linguagem tem o potencial da comunicação. A comunicação é uma desculpa para se conectar. As pessoas se comunicam para trocar. Toda a comunicação é um processo de linguagem, seja ela verbal ou não”. Nesse sentido, ele pontua: “É interessante falar de comunicação para humanos, sendo que não sei se a gente pode ser outra coisa, a não ser a linguagem. A comunicação é o ato de estar junto, de poder se reconhecer”.

Quando perguntamos sobre como ele usa a comunicação em seu trabalho, ele reconheceu a importância de uma visão mais “instrumental” da comunicação, porque, de fato, ela pode ser usada e deve ser estudada como fenômeno. E também somou outro entendimento do processo comunicativo, ao expressar uma fala que traz a exclusividade da comunicação humana: “Eu sou a linguagem. A minha expressão no mundo é a linguagem. Uso me expressando para o outro para poder produzir qualquer coisa. Para produzir uma realidade conjunta. Quando “uso” a comunicação para algo, é para construir e trocar algo que tem eu. Não é apartado de mim. Estou me expressando para produzir algo. A comunicação é minha produção. Não consigo diferenciar o que produzo e o que comunico”. Nesta visão de comunicação, ele reconhece a herança do pensamento latino, influenciado por Maturana e Echeverría: “Produto e produtor carregam um, pedaços do outro. O que é observado é observado por um observador. O que é comunicado é comunicado por um comunicador. Não existe isenção na comunicação. Portanto, eu “uso” a comunicação no meu trabalho me doando. Tudo que eu comunico vai comigo junto”, diz.

Espiritualidade por meio do Autoconhecimento

Um dos temas abordados ligados à comunicação foi a linguagem com a e da espiritualidade. Em seu trabalho como coordenador de um grupo espiritual, ele percebe que as conexões entre a comunicação e a espiritualidade é o autoconhecimento. Criando uma proposta ligada à ancestralidade e que acessa a transcendência por meio da imanência, Paulinho aponta para uma linguagem possível de acesso à espiritualidade: “Antes de você alcançar qualquer mundo espiritual você tem que alcançar este em que estamos. E isso é possível através do autoconhecimento. Conhecer-se é conhecer a forma como você se comunica, investigando seus diálogos internos, emoções e sentimentos. Eu trabalho espiritualidade como linguagem de autoconhecimento, que não exclui o transcendente. Mas eu não vejo outra maneira de transcender a não ser pelo imanente”. Ele brinca, tentando explicar: “É como diz aquele meme: não adianta fazer ioga e não cumprimentar o porteiro”.

Uma certa verdade alcançável pelo autoconhecimento seria um dos alicerces de uma comunicação autêntica. “Estamos tentando entender como nos expressamos “para fora”, nos olhando e entendendo como nos comunicamos conosco para depois fazer isso com o outro. O jargão que diz “Não importa o mensageiro, o que Importa a mensagem” é uma falácia para ele [e concordamos]. O calibre do mensageiro está ligado à mensagem. No processo de curadoria, por que estamos selecionando e falando do que estamos falando? Quem faz essa curadoria? Tão importante quanto o processo da comunicação é entender por que as narrativas estão na mesa. Às vezes quem está na curadoria tem mais poder do que quem está comunicando”, reflete.

Sobre coerência e autenticidade

Para Paulo, a comunicação é um processo intencional. “Para ser autêntico e verdadeiro, tem que ser intencional. Muitas vezes, quando eu faço uma fala mais incisiva, fico muito emocionado, mas sinto que a coisa só “azeda” quando a intenção não é verdadeira. Por exemplo, quando a pessoa está mal intencionada e fala mais “manso”, pode estar tramando algo. Então, eu escolho uma “forma” que vai me ajudar a chegar onde eu preciso. Por isso a intenção diz muito sobre a comunicação. Existe uma intensidade da intenção. Eu sei o que estou querendo, sei o aprendizado que quero causar e isso entra no fluxo da escuta. Por isso, temos sim que trabalhar formatos e isso é importante”. Sua fala nos faz revisitar a emoção que nossa comunicação expressa: a verdade (ou autenticidade) não está exclusivamente na mensagem ou no/a mensageiro/a, mas na intenção e intensidade que o/a mensageiro/a conecta e consegue expressar com e em sua mensagem – o que inclui até a agressividade. Não é porque é autêntico que o discurso será sempre dócil e tranquilo, pelo contrário, a coerência e a qualidade da relação abre espaço para a expressão mais autêntica possível.

Poder na comunicação

Ainda sobre a comunicação na espiritualidade, questionamos sobre seu como forma de submeter as pessoas à vontade do mestre. Ao que Paulinho respondeu: “Oprimir é um ato comunicativo. Você comunica naquela opressão. É comunicação, mas não é diálogo”. E conta que essa comunicação que não é diálogo acontece muito em grupos, quando os combinados prévios não estão bem estabelecidos: “As pessoas se projetam no grupo. [Por isso] Quando alguém está dependente de mim, eu dou um jeito de ser o anti-herói, expresso as minhas fragilidades. Deixo evidente que, sim, estou ali, naquela posição, mas talvez porque estou me olhando há mais tempo. A dica é “usar” o grupo para ir para dentro de você. Porque aí você entra no grupo e toma seu lugar no grupo. Aí, a grupalidade acontece”, conta ele como o grupo é veículo para o autoconhecimento sem autocentramento.

O facilitador nos explica que para a grupalidade acontecer, há duas qualidades de escolha importantes: a fala a partir da experiência e a escolha das palavras. No contexto do grupo espiritual, ele explica como imprime essas qualidades: “Como eu não tenho interesse em angariar fieis, eu não falo o que as pessoas querem escutar. Quando as pessoas me procuram para uma orientação, falo a partir da minha experiência. Muitas vezes não é o que a pessoa queria escutar e não é incomum as pessoas me levarem um problema esperando que eu tenha uma solução”.

E também no contexto do trabalho com grupos em geral, ele indica: “Eu prezo muito pelas palavras que uso. Por exemplo, quando trabalho com indivíduos, não uso a palavra “especial”. Especial é uma linguagem capital, curada para ser assim, mercantilista. Eu uso “único”. É como eu trabalho a questão da humildade. Não se trata de se apequenar ou de ser covarde. Assim como arrogância não é não se afirmar, mas sim se afirmar perante alguém que você acha que é menor que você. Isso é ser especial. Quando você se afirma como único, o parâmetro é você mesmo.” – aprofunda.

Humanização como postura e prática no caminho da libertação

A humanização, para ele, seria uma chave de entendimento para esta postura comunicacional, na medida em que se reposiciona a intencionalidade do que se fala. “Em vez de dizer “conquiste sua liberdade”, eu digo “pratique sua liberdade”, afirma. “É um processo de regeneração da comunicação. Precisamos regenerar e lembrar que – como disse o [Humberto] Maturana -, as palavras não são triviais. Precisamos regenerar a responsabilidade que a gente tem com as palavras. E isso não é não deixar as palavras orgânicas. Nem ser o tempo todo vigilantes com as palavras alheias. Porém, precisamos entender que quando se fala, se age” – acrescenta. Ele aponta que precisamos entender o fenômeno, que é importante, mas precisamos também olhar para o processo da comunicação, que se dá internamente, externamente e entre: “Através da linguagem e da conversa, a gente se modifica, modifica o outro e modifica o meio. E isso é linguagem como ação”.

Na prática, regenerar a comunicação seria unir a palavra com a ação. “A pratica é central no universo da espiritualidade”. Tomemos como exemplo a empatia e a comunicação empática: “As pessoas confundem empatia com sorrisos. Mas é preciso muita empatia para brigar bem. Não se trata de violência. Para se ter uma conversa madura difícil, é preciso muita empatia”, exemplifica.

Paulinho aponta que outra forma de colocar em prática esta regeneração é reconhecer que a nossa comunicação precisa respeitar a nossa cultura. “Nossa cultura [no Brasil] é a cultura da cordialidade. Precisamos prezar por algumas etiquetas. Intencionalmente. É possível entrar na forma das etiquetas intencionalmente sabendo o que se quer gerar. Eu quero gerar um calor na comunicação, afirmar “eu me importo com você”. Por isso, [por vezes] me comunico “pisando fofo”. Quando chegam no meu território, eu exijo que pisem fofo. Tem gente que não participou do drama comunicativo (de construção) e já chega querendo alterar algo. É a mesma ideia colonizadora de sempre. Sem atenção e empatia com o Outro. A pessoa chega, invade a terra e quer falar como os nativos devem agir” – ele sintetiza a perspectiva colonizadora que nossa cultura incorporou, à qual é possível combater com a linguagem e questionando os artifícios, palavras e modos de comunicar que usamos sem refletir.

O caminho da libertação, para ele, é o caminho da comunicação e da linguagem. E nesse caminho, é preciso sustentar a contradição. “Isso é a encruzilhada. Em grupos autônomos que querem se livrar disso os problemas são os mesmos, porque os grupos não conseguem sustentar a contradição”, nos conta Paulinho trazendo a referência d’A Pedagogia da Encruzilhada.

“A maior parte das questões são paradoxos e não serão resolvidas. [David Joseph] Bohm diz isso. É assim, por exemplo, com as questões identitárias. O cerne é sempre o paradoxo que existe entre indivíduo e coletivo. A humanização da comunicação é a harmonização entre o coletivo e o indivíduo. Harmonização não é equilíbrio, porque a harmonização é mutável e reconhece que não existe pureza. [E] a pureza não tem base.” – Paulo conclui nosso encontro com esse convite à reflexão.

Como citar: CORNIANI, Paulo Henrique. Paulo Corniani: comunicação como encontro (em torno da linguagem decolonial). [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 19 ago. 20. s. p.

Compartilhamos aqui neste post algumas referências da nossa pesquisa sobre comunicação, aceleração, autoria e humanização. 

 

ACOSTA, Alberto. O bem-viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. Ed. Elefante. 2016
O Bem viver é um conceito aberto, de origem latino-americana, que se apresenta como contribuição genuína ao debate da esquerda mundial do século 21. É um olhar que se alinha ao do decrescimento enquanto resistência aos paradigmas pós-desenvolvimentistas.

CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Série de conferências do escritor italiano (que não chegaram a ser proferidas) sobre qualidades que a literatura é capaz de salvar e que ele apontou para serem conservadas neste milênio que vivemos: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. 

CONTRERA, Malena Segura. Vínculo Comunicativo. In: MARCONDES FILHO, C. J. R. (Org.) Dicionário de comunicação. São Paulo: Paulus, 2014.
Contrera, afirma que “podemos considerar a contribuição do estudo dos vínculos comunicativos para um alargamento da compreensão sobre os meios de comunicação, entendendo-os como espaços (físicos ou simbólicos) nos quais essa rede de vinculação deve operar numa escala socialmente maior do que a da comunicação interpessoal, e refletindo sobre se esses meios têm ou não, de fato, desempenhado esse papel, ou se se tornaram meros espaços funcionais por onde transitam informações assépticas e vazias de sentido, apenas quantitativa e mercadologicamente consideradas”.

ÉCHEVERRIA, Rafael. Ontologia del Languaje. Santiago: J. C. Sáez Editor, 2003.
O autor articula contribuições sobre a linguagem de Nietzsche, Wittgenstein, Heidegger, Maturana, entre outros, para propor uma nova interpretação da linguagem como fenômeno humano. Neste livro, o teórico traz as bases filosóficas que embasam a ontologia da linguagem e aborda temas como: atos linguísticos, julgamentos, escuta, ação e linguagem, conversações, emoções e poder. 

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
Para Freire, o diálogo é “uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há comunicação”.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Editora Vozes. 2015
O autor problematiza a sociedade do cansaço, que se transmuta na realidade como “sociedade de desempenho” e “sociedade do trabalho”. Para Byung-Chul Han, somos chefes de nós mesmos e esta é uma forma de coerção mais eficiente do que a sociedade do controle. Ele aponta que perdemos a capacidade de dedicar atenção ampla e contemplativa às tarefas, pois somos “animais laborais”, impossibilitados do recolhimento contemplativo. A absolutização do trabalho, para o autor, é uma das grandes engrenagens da sociedade do cansaço: uma sociedade hiperativa que, na verdade, é hiperpassiva, porque não se permite mais pensar; e o pensamento seria a mais ativa atividade. Ele afirma a necessidade do tempo intermediário, sem trabalho; e de resgatar a celebração, a festa, o belo e o divino no cotidiano e na política.

HONORÉ, Carl. Devagar. Editora Record. 2005
Considerado a “bíblia” do Movimento Slow, o livro do jornalista escocês problematiza a velocidade como regra e apresenta a ideia de “tempo giusto”. Devagar não é ser lento, mas dedicar às coisas o tempo que elas precisam. Os capítulos do livro trazem “aplicações” do conceito de slow nas cidades, na medicina, na criação de filhos e na alimentação.

MARCONDES FILHO, Ciro. Nova teoria da comunicação, v. 1: o rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano, medial e tecnológico. São Paulo: Paulus, 2013. Coleção comunicação. Comunicação não tem nada a ver com transmissão, transferência, transporte, trânsito, repasse ou similares, pois todas essas definições supõem a ideia de que algo vai de uma pessoa a outra (…) Não existe esta materialidade, porque o que sai de mim, como fala, expressão, obra, música, toque, chega ao outro como coisa diversa, que eu jamais poderei saber o que é”. A comunicação é isso e apenas isso: a capacidade de romper a redoma de nós mesmos, o círculo fechado de nossa autossuficiência, e buscar o outro, reconhecer sua alteridade, sua especificidade, sua diferença em relação a mim, sua estranheza. O diálogo é  a primeira forma de comunicação humana. O termo significa “palavra que atravessa”, que liga as pessoas envolvidas numa conversação. É um fio, uma instância invisível, mera sensação, um fluxo de energias que circunda duas ou mais pessoas. Para ter efeito, é preciso que no instante preciso do seu acontecimento haja imersão total dos agentes na relação. O diálogo (…) é aquilo que dá condições à comunicabilidade, algo que ocorre entre as pessoas, é o tecido comum da interação. 

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
O autor traz sua perspectiva da Biologia do Conhecimento e da Biologia Cultural para refletir sobre a educação, as emocionalidades, a ética do atuar humano e as relações sociais. Seus questionamentos sobre e a partir da situação do Chile no final da década de 1980 são importantes para cuidarmos da construção de relações humanas democráticas.

MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 2014.

Coletânea de artigos do pensador chileno, organizada por Cristina Magro, Miriam Graciano e Nelson Vaz, que traz o alicerce da Biologia Cultural e conceitos que fundamentam sua visão da fenomenologia do ser humano. Fala do amor como emoção que sustenta a vida humana, bem como suas relações, linguagem e fenômenos sociais e culturais.

PINO, Claudia Amigo; ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever – uma introdução crítica à crítica genética. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Um livro sobre literatura e de crítica literária na perspectiva da crítica genética, uma abordagem dedicada a processos criativos de escritores, sobretudo debruçando-se sobre análise de seus manuscritos. Traz questionamentos e desdobramentos teóricos sobre práticas e espaços de escrita, sobre a função-autor, entre outras.

REVISTA Criação e Crítica n. 12 – Eu voltei! – o autor depois de morte ou novas formas de estudar a autoria. São Paulo, jun. 2014. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica>
Revista acadêmica de literatura e crítica literária traz edição temática com artigos de pesquisadores sobre a questão da autoria.

ROSA, Hartmut. Alienação e aceleração: esboço de uma teoria da temporalidade moderna
tardia. Alienation and Acceleration. Towards a Critical Theory of Late­Modern
Temporality. Malmö/Arhus: NSU Press, 2010. Título ainda sem tradução
oficial para o português.
O autor parte da definição do que seria uma vida plena para pensar os vetores de aceleração da sociedade atual. A aceleração é técnica; é do ritmo de vida; e das mudanças sociais; e reverbera no espaço, nas relações sociais e no mundo material. Rosa explora os motores de desaceleração que podem “frear” estas engrenagens.

ROMANO, Vincente. Ecología de la comunicación. Hondarribia: Argitaletxe
Hiru, 1998
Voltada para o campo da comunicação, a obra analisa a crise sistêmica e a ecologia como uma atitude cognitiva e prática necessária para recobrarmos o corpo como mídia primária, na perspectiva da convivência. O corpo está colonizado pelas mídias e tecnologias e é preciso descolonizá-lo. Nesse sentido, pensa-se nas noções de ecotempo e biotempo.

SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
Nesta obra, o autor se questiona sobre a possibilidade de existência de uma potência emancipatória na dimensão do sensível, do afetivo ou da desmedida para além dos “cânones limitativos da razão instrumental”. Ele resgata a dimensão do sentir para o comunicar, afirmando a urgência de uma outra posição interpretativa para a comunicação.    

WOLTON, Dominique. Informar não é comunicar. Porto Alegre: Sulinas, 2011.
Wolton aponta que vivemos em um excesso de expressividade, mas não de comunicação. “A velocidade da informação, muitas vezes, impede o aprofundamento, tendo como consequência a simplificação, o excesso de clichês e de estereótipos”. Para o autor, a pressa – em detrimento da compreensão de acontecimentos cada vez mais complexos – faz com que haja cada vez mais informação, mas uma informação que circula sem checagem e apuração. Para Wolton “a velocidade da informação pode se tornar uma arma fatal na medida em que o entendimento do outro necessita de tempo e lentidão a fim de superar os estereótipos múltiplos e construir um mínimo de convivência cultural”.

Laura Corrêa é artista visual, designer e desenhista de processos. Ela se encontra nas artes que têm no tempo um parceiro e se inspira na natureza, seu “grande livro”. Laura é criadora do Estúdio bem te vi. Entrevistamos a Laura no dia 23 de Julho,  quinta-feira, pela manhã. A entrevista aconteceu remotamente, pela plataforma ZOOM.

Artista multifacetada, Laura buscou em processos de autoconhecimento a resposta para uma pergunta que se apresentou depois de dez anos de trabalho bem sucedido em um emprego de sucesso, mas sem sentido. “Onde eu posso colocar o desenho no mundo?” foi a questão que a moveu a romper com um campo onde ela fincou raízes por meio do design gráfico. Designer de formação, ela trabalhou em agências de comunicação e – um dia – se viu e crise com o que significava fazer o que fazia. “Eu colocava desenho e imagem em qualquer coisa. Via a imagem que eu produzi e isso me trazia dilemas filosóficos, conceituais, éticos, políticos”.   

Hoje. ela visualiza a possibilidade de agir com quem ela é em muitas áreas. “Observo processos e extraio deles expressões visuais”. Para ela, a arte extrapola o universo artístico como a sociedade concebe no senso comum. “A arte é uma habilidade de pensamento”.

Consciente desta potência, ela a ativou para fundar uma escola, desenvolver projetos sociais e culturais e se engajar em ativismos. “Fui aos poucos me sentindo confortável para atuar em diferentes campos a partir do olhar artístico”. 

Com a pergunta que a moveu a romper com o trabalho repetitivo das agências, Laura foi estudar e buscar pessoas que ajudassem ela a trazer elementos para esta busca. Desta jornada, nasceu um projeto de buscar as raízes da visualidade do brasileiro. “Em todos os meus encontros, sempre me vi como brasileira. Mas o que é isso? O que quer dizer? Comunicar é ir ao encontro; é buscar o que de essencial existe nas partes envolvidas na comunicação, para que a comunicação flua”.

A pesquisa deste projeto trouxe clareza visual para outros projetos, inclusive para a criação de seu próprio estúdio.

Comunicação que vem de dentro

“Humano é isso. É a comunicação que vem de dentro. Não posso incutir uma imagem que  vive em mim em uma coisa que o outro quer comunicar”. Laura nunca compreendeu as “tendências” de comunicação ou as cores consideradas “pantone do ano”. “A comunicação só acontece se encontrar um caminho de fluxo de dentro para fora”. 

Diante desta constatação, uma questão se impõe: “como serei autoral com minha expressão visual, sem ser A autora do processo?”.

Laura costuma convidar as pessoas que a contratam para um processo de co-criação, “O primeiro passo é um mergulho para dentro”. Nesse sentido, ainda que ela reconheça o suposto paradoxo da expressão “humanizar a comunicação”, ela o vê como necessário. “Ao afirmar que é preciso humanizar, acordamos algo em um mundo que começou a se desumanizar, se boicotar, acelerar e pular etapas. Quando acreditamos que as coisas podem ser iguais envolvendo entes diferentes, é porque estamos nos maquinizando”.

Praticar a humanização da comunicação trouxe o prazer de volta para Laura. “Antes, era um processo repetitivo. Conhecer as pessoas para comunicar processos é uma riqueza! É uma maravilha!”. Para fazer isso, ela criou uma espécie de “caminho” para seus clientes. Chamado de “fios do tempo”, o processo consiste na realização de encontros prévios ao processo criativo. “É esta troca que faz com que as pessoas se enxerguem no campo do que não é cognicível, é intangível”. Isso gera um encantamento que conecta com outro pensamento”.

Revelar-se no tempo

Laura tem uma paixão especial pelas artes que têm no tempo um parceiro. “A fotografia sempre foi minha companheira. Senti isso na alma na primeira vez que entrei em uma sala escura. E consegui atribuir sentido depois de algum tempo. A ideia de algo que se revela no tempo e que opera em luz e sombra, para mim, é uma metáfora da vida, do que eu busco na vida”. “Gosto de todas as artes que tem um processo no tempo para se revelar. Adoto gravura, que se imprime no reverso. Isso é a vida!”.

Tempo e natureza possuem uma conexão íntima para Laura. “A natureza é minha grande inspiração. Meu grande livro. E foi muito marcante para mim o momento da vida em que parei, tirei um tempo para mim e para minha família e tive tempo para olhar e observar a natureza com outra atividade, com outra disposição. Com tempo. pude observar a natureza do lugar que sempre busquei e nunca havia conseguido, que me permitiu captar a expressão do que vem de dentro”. Foi neste momento que ela realizou que a superfície é apenas uma destas expressões. “Como consigo, pela expressão externa, mostrar o interno?”: esta pergunta se apresentou e passou a movê-la. “Esta é a poética do verso e do reverso que mencionei com a gravura”.    

A beleza do artístico, para ela, reside nesta busca, mas que não contém todas as respostas, nem tampouco pode ser reproduzida como uma fórmula. “A beleza é o descontrole do que o Outro vai entender e sentir”. Ela conta que precisou de um processo de alargamento para conseguir se soltar na relação com este não controlar. “Trata-se de um entre, mais fluido, onde a comunicação acontece”. Nesta dança, a liberdade da comunicação artística trouxe importantes insights para processos de comunicação conectados ao universo do design, em que muitas vezes é preciso atender a metas e objetivos. “Nunca vamos controlar. Precisamos buscar apenas uma âncora, algo que finque a comunicação”. Para isso, é preciso buscar a verdade do que se comunica.

“O que importa é que seja a verdade daquela pessoa, projeto ou organização e que eu consiga fazer esta verdade sair por meio da expressão visual”. Não se trata de um método. Não dá para sistematizar. “Justamente por se tratar de uma prática que se estabelece no vivo. As coisas vivas estão em transformação e pedem que se estabeleçam vínculos”.

Existem dicas práticas para se comunicar assim?

Não se trata de um método e não é possível estabelecer um “passo a passo” para a comunicação viva, autoral, humanizada, com sentido e a partir do vínculo e da verdade. Laura conta que é possível desenvolver uma “postura” ou atitude nesse sentido, ainda que não se possa chegar a um lugar “final”, onde a comunicação estaria “pronta” ou “estabelecida”. O senso de humanidade do processo está justamente na compreensão de que ele está vivo, em movimento, em transformação e se dá a partir de cada relação.  “É preciso estar sempre aberto para deixar que o Outro entre e para criar um campo para que o Outro permita que você entre”. 

E não existe uma forma de criar nada com outras pessoas sem que haja encontro. “Cada um vai exercitar as possíveis formas de criar esse encontro”. 

Estar aberto significa não se formatar. “Não dá para criar uma fôrma para as coisas. Esta compreensão é a minha principal dica”. 

Outra dica é a de que nós – comunicadores(as) – somos veículos. “Nós ajudamos a trazer expressão do que o outro quer manifestar no mundo. Temos algumas habilidades e recursos para isso”.

Por fim, devemos convidar o outro a ser criador da sua própria voz. “Temos que sair do lugar do ego, da comunicação dos prêmios, da competição, da vaidade. Estar acordado para isso é um exercício. E não devemos parar nunca de praticar e ver pela experiência do caminho”.

Laura compartilhou com a gente reflexões de Michelangelo que a acompanham desde que ela entrou em contato com a obra, quando viveu na Itália para estudar. 

“Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem.”

“Observei o anjo gravado no mármore, até que eu o libertasse.”

As frases, da obra “Os Escravos” nos convidam a pensar sobre o papel de uma comunicação que tem seu sentido no desvelamento de algo que (já) está ali e que precisa florescer.  

      

Como citar: CORRÊA, Laura. Laura Corrêa: a autoria e os fios do tempo. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 24 jul. 20. s. p.

   

   

O Projeto Humanizar a Comunicação é um percurso de pesquisa observante e reflexiva, fruto de uma parceria entre a Incipit Hub e o Desacelera SP. Ele nasce do desejo de Carol Messias e Mi Prazeres de aprofundar a reflexão que elas vêm construindo sobre as conexões entre a comunicação autoral e a comunicação slow. A pergunta central que move suas investigações é: o que é uma comunicação humanizada?.

Será que faz sentido falar em humanização da comunicação quando a entendemos como uma habilidade exclusivamente humana? Será que esse termo tem a ver com algo que aconteceu no processo, no uso e/ou no resultado da comunicação na contemporaneidade?

Vivemos um momento histórico em que a comunicação – marcada pela aceleração social do tempo e indexada pelas engrenagens tecnológicas – acelerou. 

O automático é rápido, mercadológico e baseado em fórmulas.

O humano é devagar, autoral e vivo.

“Comunicar inclui informar fatos, pontos de vista e afetos, mas sua função não é apenas informacional – há um aspecto transformacional da comunicação que impacta diretamente nosso ser (micro) e nossa cultura (macro). A linguagem cria mundos, muros e pontes”, afirma Carol.

O projeto que Carol e Michelle empreendem desde 2019 se debruça sobre as relações do humano com a comunicação e o potencial que essa habilidade carrega (e que parece estar sendo convocada pelo adjetivo “humanizado” que emerge nos discursos atuais). Elas pretendem refletir juntas e também pesquisar um campo da comunicação humanizada, por meio da escuta de pessoas que estão construindo pensamentos e conhecimentos sobre as diversas áreas e práticas da comunicação. A partir dessa curadoria de vozes, informações e conhecimentos, elas pretendem organizar o percurso em forma de obra viva. O percurso, que será registrado no site do DesaceleraSP, deve trazer abordagens, componentes e elementos de uma comunicação que recobre seu aspecto humano.

“Em um contexto de excesso informativo e de aceleração social do tempo, falar em humanizar a comunicação é falar em recobrar os sentidos que nos movem nesta comunicação. Olhar para a comunicação enquanto um processo vivo e que, portanto, não se trata de mera transmissão. Comunicação é vínculo, ponte, ressonância. E acontece no corpo, no entre e no durante das relações humanas”, afirma Michelle. 

As primeiras entrevistas do projeto começam em junho. A previsão é de que o percurso de pesquisa, observação, escuta e sistematização tenha duração de um ano.