foto de portfólio In Totum

Em 11 de setembro de 2020, entrevistamos Ciça Costa e Bruno Andreoni, do Estúdio InTotum de Comunicação e Design Social. Guardiões também da Revolução Artesanal, dos cadernos inspirados da Veio de Lá e de iniciativas que vão se alinhavando em torno da comunicação, do impacto social e da cultura artesanal. Conversamos sobre a Comunicação com Consciência, a base em que sustentam todos os seus trabalhos voltados à comunicação e ao design, uma abordagem que respeita o ser, o tempo e a relação, abrindo espaço seguro para que ideias possam se materializar.

O todo que integra as partes

Ciça Costa e Bruno Andreoni são de muitos lugares, mas começam de um núcleo: são mãe e filho. O primeiro lugar que eles trazem para a nossa conversa sobre comunicação é a In Totum (“em tudo”, “no todo” em latim), estúdio criado por Ciça e seu companheiro Marco Andreoni, que nasceu como uma agência de comunicação tradicional. Ambos formados em Comunicação Social, testemunharam a chegada de computadores e da internet discada no Brasil como ferramenta de trabalho em escala nos anos 90. Nessa época, eles estavam imersos em tudo que envolvia inovação digital: comunicação digital, editoração eletrônica, animação 3D… Na época, Marco trabalhava numa agência digital e Ciça atuava no campo da arquitetura. Ambos se apaixonam por essa revolução e foram descobrindo esse universo extremamente novo das placas, softwares, PCs e Macbooks. Assim, entraram no mundo do audiovisual.

A In Totum nasce assim, fazendo animação 3D, audiovisual, fazia slides e transparências pelo computador. Era uma inovação! E a editoração eletrônica… […] diagramação, campanhas, uma agência tradicional.” – conta Ciça – “o estúdio se consolida, mas em um momento isso começa a ficar travado aqui [apontando a garganta]. Em dado momento, a gente pega um trabalho lindo junto com comunidades de artesanato de tradição, bordadeiras etc. […] e quando a gente chega na comunidade eu penso ‘acho que eu queria trabalhar por aqui’…”, narra a revolução interna que começa a fluir no embate entre as inovações tecnológicas e as culturas tradicionais, entre as propostas de trabalho tradicionais que chegavam e a serviço de quê o estúdio estava…

O Bruno chega nesse momento de virada, com a chegada de um projeto que Ciça via potencial para não fazer do jeito comum, mas em processo, junto com a cliente, com encontros, conversas que acabam delineando num processo de Comunicação com Consciência. É nesse momento que eles passam a incluir o “fazendo” junto no trabalho: “aprende-faz-desenha-aprende-faz” artesanalmente. “Até hoje, esse jeito de fazer a comunicação com faz muito sentido, e antes a gente fazia comunicação para […]”, diz Ciça, ao que Bruno complementa sobre a qualidade da proximidade da comunicação com a pessoa que comunica.  

Processo de criação artesanal

O processo da Comunicação com Consciência passa por um desenho de atividades sob medida que, artesanalmente, vai gerando os elementos da comunicação da marca: nome, cores, formatos, movimento, fonte e organização do discurso. Ciça e Bruno apoiam a construção de um manual de significados da marca antes do conhecido “manual de uso”. Eles contam que esse processo tem a ver com a autoria, ou seja, com quem é o criador e com qual é o seu produto ou serviço. Incluir as histórias, o jeito e de onde veio a ideia da marca são elementos fundamentais para alinhar o discurso e construir a comunicação com consciência.

Bruno conta que às vezes o processo gera, antes do resultado esperado (por exemplo, o design de uma marca), grandes perguntas. Os facilitadores devolvem para o/a cliente o percurso vivido, inclusive explicitando essas questões para que possam de debruçar uma ou mais vezes antes de chegar em um resultado dito “concreto”. Ciça conta que é um processo extremamente vivo, pois é a partir do primeiro encontro com a pessoa que eles desenham os demais passos que vão percorrer. 

Na etapa de criação do manual de significados (quando ela emerge como necessidade do processo), Ciça e Bruno facilitam a investigação da comunicação de dentro para fora, entendendo o que conecta, focando no como: “Quando consegue trazer o como, você está falando do que você faz sem ser pela generalização da palavra, mas pela sua identidade“, indica Ciça. 

O “como a gente faz o que faz”, para ambos, aporta nossa pluralidade de histórias para a comunicação e talvez seja este o campo que toca a história da humanização, que tanto se fala hoje.

Humanização é trazer de volta a autoria

Os parceiros veem humanização como uma capacidade de trazer significado e sentido, com uma consciência. Devolve o lugar do humano e o sentido de sua comunicação. Criar por criar não faz sentido, seja um briefing, um logotipo, uma marca, ou o que quer que seja fruto da expressão humana. É importante se questionar sobre o sentido de nossas criações e do que comunicamos. Por isso, eles associam a humanização ao devolver a comunicação para o autoral, sobretudo de como cada um de nós cuida do que cria e expressa.

Caminhos para comunicar com consciência

Além de observar o jeito como se faz o que se faz, Ciça e Bruno contam algumas etapas recorrentes do processo da Comunicação com Consciência, que pode nos orientar a refletir sobre essa arte: 

  • visitar quem se é para além do currículo profissional e também observar as relações que estabelecemos – “a qualidade da relação dá um chão enorme para olhar para os discursos de comunicação”, afirma Bruno.
  • conhecer história da empresa em si, dos sócios (quando há) e encontrar pontos significativos, comuns e divergentes – tudo é insumo para construção do manual de significado do que será criado. 
  • respeitar o tempo da criação e da comunicação – os prazos de jobs geralmente são insanos, e a aceleração de um processo como esse pode nos fazer perder preciosidades, profundidade, perguntas realmente importantes, apenas para “entregar”.
  • buscar apoio de quem pode facilitar esse encontro com a sua comunicação com consciência – um acompanhamento da criação com essa qualidade leva a entender que não é algo que é só “pra você”, mas feito “com você”, e isso muda totalmente o sentido do resultado. 

Como citar: COSTA, Ciça; ANDREONI, Bruno. Comunicação com consciência. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 11 set. 20. s. p.

Foto de Johnny Chen, via Unsplash

 

“Comunicação é meu oxigênio”. E, de fato, a jornalista e professora de redes sociais, Paula Ribas, é a comunicação em pessoa, viva, pulsante. Em nossa entrevista, em 27 de outubro de 2020, ela contou a sua trajetória que conecta arte, comunicação, o interesse por pessoas maduras e a vida digital. 

Viver a comunicação 

“A comunicação é fundamental para a minha existência. É nesse lugar que ela está para mim; um lugar de essência, de necessidade de expressão e de dar ao outro a oportunidade e o direito à expressão, seja por escrito, por vídeo, por foto, por pintura… eu facilito e favoreço o direito à expressão. A comunicação é para mim o sentido de estar viva”. É assim que a jornalista Paula Ribas inicia sua resposta do que é comunicação para ela.

A partir desta definição contundente da comunicação como a própria seiva da vida, parecia não fazer sentido perguntar como Paula exercita na prática a comunicação, já que esta seria uma totalidade. Mas ela explica que hoje esta premissa a orienta em seu fazer: ela oferece mentoria de comunicação para pessoas, empresas e grupos que precisam de apoio para se integrar à vida nas redes. “Na pandemia, visualizei que eu precisava oferecer uma espécie de atendimento de emergência, uma enfermaria de comunicação, para apoiar as pessoas no processo de transitar para a vida digital”.

“Encontrei meu cardume” – comunicação e propósito

Ela nos contou um pouco de sua trajetória profissional: “eu trabalhava com política, um ambiente muito hostil, que eu gostava, porque adorava ser competitiva, enfrentar crises diárias. Eu era boa nesse jogo, na manipulação. Aprendi a fazer isso muito bem. Mas eu me exauri nesse lugar, fui perdendo tempo, saúde, sanidade e espiritualidade para os jogos de poder que eu adorava, porque fazia bem. Eu tive que escolher entre a paz e o dinheiro e o prazer de jogar. Fui fazer pós-graduação na Cásper, porque estudar na Cásper era um sonho desde que me formei na Anhembi Morumbi. A pós abriu meu caminho e me pôs no meu lugar. Encontrei meu cardume, minha tribo, minha alcateia. Eu estava sofrendo, porque estava no lugar errado”.

Paula conta que as pessoas, o ambiente e os conhecimentos com os quais entrou em contato na formação da Pós a fizeram perceber que ela não tinha que mudar de profissão, mas sim de ambiente e de projeto de vida. “Achei pessoas certas. Professores e alunos que me ajudaram a transitar e a estar no lugar em que estou hoje, trabalhando com comunicação para quem quer fazer deste lugar um lugar melhor: comunicação para quem tem propósito, projetos humanos; para quem quer olhar para a vida, para a continuidade da vida. Para quem quer desfrutar do direito de se viver do jeito que se é”.

Ela conta que não tem mais os salários que tinha quando trabalhava na política, trabalha mais, mas se sente feliz e realizada. “Os boletos existem, mas reconfigurei minha vida para gastar o mínimo possível tendo qualidade de vida. É um trabalho de formiguinha esse de dar chão para as pessoas na comunicação”.

Na Metade do Livro – para navegar no mundo digital

Paula é idealizadora do Na Metade do Livro, um projeto de conteúdo voltado para pessoas (especialmente mulheres) maduras, que tomou a forma de um canal no youtube. “Minha força é comunicação em vídeo. Fui atriz de teatro e televisão. Trabalhei em novelas, fiz muito cinema publicitário… no canal de Youtube, me encontrei. Minha pesquisa me ajudou a compreender o que eu estava fazendo e minha preocupação com as mulheres de mais de 40, um público que não recebe um tratamento saudável de comunicação. E isso foi se transformando. O projeto e a pesquisa sobre ele foram o grande celeiro para o que faço hoje”.

Hoje, Paula oferece mentorias para projetos e produtos online e ajuda as pessoas a migrarem os trabalhos (ou adaptarem ou criarem novos produtos) para o digital. Também faz processos de branding. “Precisei abrir mão dos meus projetos pessoais para abrir a enfermaria da comunicação na pandemia. As pessoas chegam para mim com sofrimento, com dor de se expressar em vídeo. E eu fico atravessando as pessoas, pequenas empresas e equipes para o outro lado do rio, para o mundo digital”. 

“Hoje, tenho clareza de que encarnei para fazer o que eu faço: juntei a pesquisa e o interesse pelas pessoas maduras com os códigos do mundo digital. A tudo isso, ainda acrescento minha alma de artista. E tenho certeza de que todo preparo com arte e comunicação foi para me ajudar a capacitar as pessoas a viverem neste momento. É algo mágico”.

Por uma comunicação orgânica

Sobre a humanização da comunicação, Paula conta: “Há uma artificialização que tem contaminado as pessoas, um monte de gente iludida achando que impulsionar post vai vender e entregar o que elas querem. Em contraposição a isso, tenho chamado o que eu faço de comunicação orgânica, com consciência. Esta comunicação pode usufruir das ferramentas, das hashtags, da rede, mas para fazer, é preciso estar afim de tomar conta do que é seu e de se responsabilizar pela sua própria comunicação”, explica.

Sobre a ideia de organicidade, Paula conta que hoje está morando na praia e que a natureza tem se apresentado de uma forma muito potente. “Estou entendendo diversas conexões com a comunicação. A natureza que está em nós consegue fazer as conexões de que precisamos. Quando quero me inspirar, eu olho para a natureza. Ela vai responder. Na natureza que nos habita, tudo é sinal, rede e conexão”.

 Como esta comunicação orgânica, consciente e conectada com os sinais da natureza, Paula busca encorajar as pessoas a “se expor sem temer”. Ela explica que não se trata de um treinamento técnico, ainda que exista técnica “mas sem segredo”. “Eu conduzo as pessoas a aceitarem a sua imagem, o som da própria voz, as cicatrizes, as rugas, o fato de que estão fora do padrão. É um trabalho de aceitação de quem a gente é e aparenta ser”. Depois, vem o trabalho com a expressão. “Eu gravo cinco vídeos e o melhor vai para o ar. Mesmo sem estar bom. Mas é o melhor. Assim, vou trabalhando a musculatura da autoestima e da aceitação. Estimulo as pessoas a postarem estes conteúdos e a ouvirem o que as pessoas têm para falar”. 

Ela conta que é comum as pessoas chegarem em busca de temas ou recortes de temas. “Apoio as pessoas a encontrarem os temas que estão dentro delas, colados com elas. Já revelei para uma pessoa que ela era um líder. Para outra, contei que ela era influenciadora. Funciono como um espelho na mudança de degrau da vida destas pessoas. Presto atenção nelas, olho para elas e ajudo elas a darem nome para o que fazem e são”, conclui.

Como citar: RIBAS, Paula. Paula Ribas e a comunicação orgânica e com propósito. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 24 set. 20. s. p.

“O quanto eu posso afetar a pessoa por algo que posso transmitir a ela?” – este foi um dos muitos pensamentos inspiradores sobre comunicação que a especialista em comunicação não violenta, Elisa Tredicci, trouxe para nossa conversa no dia 13 de outubro de 2020. Neste relato, você conhece a abordagem e o trabalho da facilitadora e mediadora de conflitos dentro e fora das organizações, sua concepção de comunicação que é resultado, não intenção, e a importância do recurso da escuta e o tempero do amor na comunicação assertiva. 

Elisa é facilitadora de aprendizagens e consultora organizacional e se interessou pela comunicação com mais profundidade quando tomou contato com a Comunicação Não Violenta como abordagem.

“Percebi que já era algo com que eu trabalhava nas empresas que eu atendia, porque sempre trabalhei com grupos. A partir da CNV, diagnostiquei que muitas questões que eu trabalhava nas empresas eu começava a resolver por como as pessoas de relacionam, nos setores, líderes com equipes, equipes entre si. O trabalho não era puramente comunicação, mas sempre tinha uma semente de comunicação”, explica.

Ela começou então a chamar seu fazer de “programas de humanização ou desenvolvimento de equipe ou de liderança” e a atender diversos tipos de clientes – com maior ou menor grau de formalidade. “Vou adequando o que cabe para cada lugar”. Ao longo de sua jornada profissional, foi percebendo entre gestores uma inabilidade de trazer a comunicação como chave para a resolução de questões. “Estou falando de liderança, porque em geral os ambientes e as equipes são o espelho do que é a cultura do lugar e das relações entre as pessoas. E, em geral, as equipes são a cara do gestor”.

Seus programas visam fazer com que as pessoas se sintam vistas e escutadas, para que sintam que os outros confiam no trabalho delas, para que exista um entendimento do papel de cada pessoa. “Isso vai “amolecendo”, tirando camadas, e as pessoas vão se olhando além dos rótulos dos crachás e se olham com humanos”, explica Elisa. As interações que tende a provocar na facilitação intencionam conectam as pessoas em alguns lugares. “Uma das formas de começar os programas é conectar com a criança de cada um ou com a ancestralidade. Vou trazendo memórias, que quando as pessoas contam, já passam a receber outro olhar”.

A partir destas abordagens, ela vai trazendo conceitos da comunicação assertiva e não violenta. Ela explica: “Ser direto ao ponto não é ser agressivo. Se você traz uma base de CNV, consegue ser assertivo sem receio de que vai causar algo nas pessoas”.

Uma comunicação que gera entendimento e é resultado

Para Elisa, comunicação é “conseguir ser eu mesma a partir da minha verdade de forma que as pessoas entendam. Comunicação não é intenção, é resultado. É também minha responsabilidade trazer algo para que a pessoa entenda. Quando eu falo algo, falo a partir de uma imagem que está dentro. Quem escuta espelha o que eu falei e cria uma imagem própria, que pode ser totalmente diferente do que eu tentei transmitir. Como, sabendo desse espelhamento, consigo trazer algo de forma assertiva com cuidado e intenção de ser cuidadosa para que se receba a mensagem que eu quero transmitir? Posso também checar se você entendeu o que eu quis dizer”.

Em síntese, seria o ato de conseguir trazer a imagem que vem de dentro com cuidado de modo que a outra pessoa entenda; e checar com a pessoa para saber se ela captou o que se quis transmitir. “Se eu não fizer isso, eu abro a porta para infinitas interpretações. Aí, pode ser comunicação mas será que é assertiva?”, questiona Elisa.

“Falar a verdade com amor”

A ideia de comunicação humanizada ou de humanizar a comunicação faz sentido para Elisa. “A comunicação humanizada é com menos ou nenhuma dureza ou frieza. Uma fala só direta ou só assertiva, sem calor. A Comunicação Humanizada é com cuidado e amorosidade. Isso não quer dizer necessariamente que eu tenho que amar a pessoa. A amorosidade vem de mim. E não do que eu possa sentir por alguém. É falar a verdade com amor”, diz.

Ela admite que este é um desafio em um mundo marcado por dualidades. E quando o outro não tem disposição para a ressonância? “Com a CNV assertiva, tive a constatação de que exige um esforço cerebral permanente escolher falar assim, porque não é automático. Essa parece ser, para mim, a conexão com o slow: é parar, respirar e poder agir. E não agir orquestrada pela emoção e o impulso”, explica Elisa.

Elisa traz também a referência de comunicação presente na teoria U. Segundo esta teoria, a comunicação acontece em quatro níveis de escuta, como ela resume:

  • “No 1º nível, acontece o downloading. É quando a pessoa presta pouca atenção. Isso se dá, porque a pessoa já tem um julgamento ou opinião sobre aquele tema que está sendo tratado. O cérebro “desliga” e a pessoa oferece uma escuta passiva.
  • No 2º nível, acontece uma escuta factual. A pessoa começa no 1º nível, mas alguma palavra ou termo chama atenção e ela se conecta. Algo refuta a curiosidade para que ela preste atenção. A pessoa começa a escutar com um pouco mais de atenção. É um estado de mente aberta.
  • No 3º nível, acontece a escuta empática. A pessoa se conecta emocionalmente. É um estado de coração aberto.
  • No 4º nível, acontece a escuta generativa: mente aberta, coração aberto e vontade aberta. Neste nível, a presença está tão presente, que é possível se conectar com o que emerge daquela conexão.”

Não é mais uma soma de expressividades, mas comunicação. Algo que emerge do entre. “É como se houvesse uma cocriação. Apenas pela escuta, eu apoio a pessoa a transformar ideias, porque ela está falando comigo e sendo escutada”, explica Elisa. Esta abordagem permite nos perguntarmos “o quanto eu posso afetar a pessoa por algo que eu posso transmitir para ela?”.

Para Elisa, quando começamos a praticar, sabemos voltar para esse lugar que se constrói na escuta generativa. “Talvez a necessidade não atendida da pessoa é apenas falar. Precisamos ter consciência de que podemos afetar o outro inclusive com o nosso silêncio de escuta presente. A escuta é o grande poder”. A ideia do thinking environment, lembrada na conversa, é essa vontade de aprender e escutar o outro. Para Elisa, a intenção está relacionada com a vontade de escutar o outro e de falar de forma que o outro entenda. “É uma vontade de dissolver o conflito”. Ela resume: “É o COMO. Como criar melhores condições de diálogo com ferramentas, consciência e autoconhecimento”.

Elisa indica caminhos para quem busca humanizar a comunicação: consciência e aprendizagem. “Só aprendemos algo quando se transforma em ação, se não, isso é apenas uma informação que você colocou para dentro. É muito mais fácil quando se pratica”, explica. Ela conta que a informação pode chegar por um livro, um vídeo, um artigo… mas que é preciso tomar consciência e começar a praticar para que de fato aquilo se torne um aprendizado. “Por isso, nos meus grupos, faço com que as pessoas experimentem. Apenas vivenciando elas enxergam que é possível e seguir fazendo. É preciso praticar o que se sabe e ter a vontade aberta para ver o que mais surge”.

Quando convidada a adentrar a questão prática, Elisa aponta a sensorialidade como um componente importante para que a comunicação aconteça. “Coloco as pessoas de frente uma para a outra. Já fiz isso com executivos. Eles se emocionaram no lugar da escuta que tinham que se olhar. Precisamos lembrar que temos tecnologias humanas milenares de acesso pleno. O olhar é uma delas. A forma como se olha para quem está falando, o toque, o abraço quando existe abertura para isso…”. O olhar e a escuta mostram muito. São constatadores da presença”.

 

Como citar: TREDICCI, Elisa. Elisa Tredicci e a comunicação assertiva e não violenta. [Entrevista concedida a] Carolina Messias e Michelle Prazeres. Projeto Humanizar a Comunicação. São Paulo, DesaceleraSP, 13 out. 20. s. p.