Por Michelle Prazeres*
O Desacelera SP tem diversas frentes de ação. Uma delas é a de produção de conhecimento e formação. Desenvolvemos pesquisas sobre os conceitos de tempo, ritmo, convivência e suas implicações e incorporações em diversos campos da vida social. Uma das aplicações possíveis é da noção de lentidão para as mídias.
Estou desenvolvendo um levantamento sobre jornalismo lento no Brasil; e tomei contato com o Manifesto da Mídia Lenta. Compartilho com vocês uma tradução livre que fiz para o português a partir da tradução em inglês do original, que é alemão.
Se tiver alguma contribuição para a tradução, agradeço se puder enviar para contato@desacelerasp.com.br
🙂
Veja o original em alemão; e a tradução para o inglês.
Na primeira década do século XXI, os chamados “naughties”, trouxeram profundas mudanças aos fundamentos tecnológicos da paisagem midiática. As principais palavras-chave são redes, Internet e mídias sociais. Na segunda década, as pessoas não procurarão por novas tecnologias que permitam uma produção de conteúdo ainda mais fácil, mais rápida e de baixo custo. Em vez disso, as reações apropriadas a essa revolução da mídia devem ser desenvolvidas e integradas política, cultural e socialmente. O conceito “Slow”, como em “Slow Food” e não como em “Slow Down”, é uma chave para isso. Como o “Slow Food”, o Slow Media não diz respeito ao consumo rápido, mas á escolha dos ingredientes conscientemente e ao preparo de forma concentrada. A As mídias lentas são acolhedoras e hospitaleiras. E gostam de compartilhar.
1. A mídia lenta é uma contribuição para a sustentabilidade. Sustentabilidade refere-se às matérias-primas, processos e condições de trabalho, que são a base para a produção de mídia. Os setores da exploração e dos baixos salários, bem como a comercialização incondicional dos dados dos utilizadores não resultarão em meios de comunicação sustentáveis. Ao mesmo tempo, o termo se refere ao consumo sustentável de Slow Media.
2. A mídia lenta promove as monotarefas. A mídia lenta não pode ser consumida casualmente, mas provoca a concentração total de seus usuários. Tal como acontece com a produção de uma boa refeição, que exige a plena atenção de todos os sentidos pelo cozinheiro e seus convidados, a Slow Media só pode ser consumida com prazer.
3. Slow Media visa a perfeição. A Slow Media não representa necessariamente novos desenvolvimentos no mercado. Mais importante é a melhoria contínua de interfaces de usuário confiáveis que são robustas, acessíveis e perfeitamente adaptadas aos hábitos de uso de mídia das pessoas.
4. Slow Media torna a qualidade palpável. Slow Media mede-se na produção, aparência e conteúdo contra altos padrões de qualidade e que se destacam por suas contrapartes rápidas e de curta duração – por alguma interface premium ou por um design esteticamente inspirador.
5. Slow Media ativa Prosumers, ou seja, as pessoas que ativamente definem o que e como querem consumir e produzir. Na Slow Media, o Prosumer ativo, inspirado por seu uso de mídia para desenvolver novas idéias e agir, substitui o consumidor passivo. Slow Media inspira, continuamente afeta os pensamentos dos usuários e ações e são perceptíveis anos mais tarde.
6. Slow Media são discursivos e dialógicos. Eles anseiam por uma contrapartida com quem possam entrar em contato. A escolha do alvo é secundária. Em Slow Media, ouvir é tão importante quanto falar. Por isso, “Slow” significa ser consciente e acessível e ser capaz de considerar e questionar a própria posição de um ângulo diferente.
7. Slow Media são mídias sociais. Comunidades vibrantes ou tribos se constituem em torno da mídia lenta. Isto, por exemplo, pode ser um autor vivo que troca pensamentos com seus leitores ou uma comunidade que interpreta o trabalho de um músico. Assim, a Slow Media difunde a diversidade e respeita as características locais culturais e distintivas.
8. A Slow Media respeita seus usuários. Aborda seus usuários de forma auto-consciente e amigável e tem uma boa ideia sobre a complexidade ou ironia com as quais seus usuários podem lidar. Slow Media não não aborda seus usuários de forma submissa.
9. A Slow Media é distribuída através de recomendações não publicitárias: o sucesso da Slow Media não se baseia numa pressão publicitária esmagadora em todos os canais, mas na recomendação de amigos, colegas ou familiares. Um livro dado como um presente cinco vezes para os melhores amigos é um bom exemplo.
10. Slow Media são atemporais: Slow Media são de longa duração e aparecem atuais mesmo após anos ou décadas. Eles não perdem a sua qualidade ao longo do tempo, mas na melhor das hipóteses obtém algum “verniz” que pode mesmo aumentar o seu valor.
11. Slow Media emanam uma aura especial. Eles geram uma sensação de que o meio específico pertence apenas a esse momento da vida do usuário. Apesar do fato de serem produzidos industrialmente ou parcialmente baseados em meios industriais de produção, eles sugerem ser únicos.
12. Slow Media são progressistas e não reacionários: a Slow Media depende de suas realizações tecnológicas e do modo de vida da sociedade em rede. É por causa da aceleração de múltiplas áreas da vida, que as ilhas de lentidão deliberada são tornadas possíveis e essenciais para a sobrevivência. Slow Media não é uma contradição à velocidade e simultaneidade de Twitter, Blogs ou Redes Sociais, mas são uma atitude e uma maneira de fazer uso deles.
13. Slow Media concentra-se na qualidade tanto na produção como na recepção de conteúdos multimídia: Originárias dos estudos culturais, a crítica de fontes, a classificação e a avaliação de fontes de informação estão ganhando importância com a crescente disponibilidade de informação.
14. Slow Media pede a sua confiança e se buscam a credibilidade. Atrás da mídia lenta estão pessoas reais. E você pode sentir isso.
Stockdorf and Bonn, 2 de Janeiro de 2010
Benedikt Köhler
Sabria David
Jörg Blumtritt
* Tradução livre, por Michelle Prazeres, jornalista, professora e pesquisadora sobre jornalismo lento no Brasil.