A vida te distrai do que é importante?

Este final de semana, pude assistir a “O segredo dos seus olhos” (El Secreto de Sus Ojos, 2009), filme argentino do diretor Juan José Campanella. Um filme sobre amores, paixões e sobre o tempo.

Filmaço. Poderia discorrer sobre múltiplas questões que ele suscitou.

Vou focar em uma delas. Me chamou atenção um diálogo logo no início do filme (não é spoiler), em que Espósito, personagem de Ricardo Darín, conversa com Irene, personagem de Soledad Villamil, e diz que passou a vida se distraindo com relações, amigos, trabalhos, casamentos, affairs… e que agora, ao se aposentar, ele se olhou no espelho e não gostou do que viu.

Este diálogo me tocou profundamente e levantou questões que tem nos provocado na construção do Desacelera SP.

Temos pensado sobre o uso consciente do tempo; sobre escolhas que nos “impõem” um ritmo externo que não é o tempo do nosso corpo, nem da nossa alma; sobre os “ladrões de tempo” do cotidiano; sobre as múltiplas dimensões desta “correria” e os significados e implicações para a humanidade a sociedade que estamos construindo.

O diálogo abriu várias janelas de reflexão. E comecei a semana pensado: você gosta do que vê no espelho? O quanto a vida “que é preciso viver” rouba o seu tempo e te distrai do que é importante e prioritário pra você? Quantas coisas cheias de significado e propósito interno você deixou de realizar para dar conta de tarefas “urgentes”, mas que não fazem o menor sentido pra você?

O quanto esta vida cheia de urgências fabricadas nos desconecta de nós mesmos? O quanto dedicamos nosso tempo a coisas, pessoas e relações que estão nos distraindo e não nos nutrindo?

O quanto conseguimos – disso tudo – trazer para o âmbito da consciência das escolhas e o quanto deixamos que se decida por nós, e culpamos “o mundo lá fora” pelo que deixamos de realizar no tempo?

Me parece que a tarefa mais difícil é a do equilíbrio. Porque estamos neste mundo que nos demanda correr e nos “distrai” com coisas desimportantes. Se estar aqui e viver este tempo e este ritmo é inevitável, que consigamos ao menos realizar coisas que nos nutrem a alma para não termos um dia esta sensação que que fomos levados por uma correnteza sem saber que podíamos nadar para toda e qualquer parte.

Por Michelle Prazeres, jornalista e uma das idealizadoras do Desacelera SP.