Resenha do capítulo “A ideia da slow school: É hora de desacelerar a educação?”

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Resenha do capítulo “A ideia da slow school: É hora de desacelerar a educação?”

On October 17, 2017, Posted by , In Textos, By ,,,, , With No Comments

HOLT, Maurice. A idéia da slow school: É hora de desacelerar a educação? In: STONE, Michael; BARLOW, Zenobia (Orgs.). Alfabetização ecológica: A educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 84-91.

Post original aqui.

Maurice Holt foi o primeiro diretor da Sheredes School, em Hertfordshire, dirigiu um programa de mestrado no Exeter University e foi diretor da American Academy, no Chipre. Em 1991 assumiu o cargo de professor de teoria curricular do curso de graduação da University of Colorado, em Dever. Foi co-editor do Journal of Curriculum and Supervision e é atualmente professor emérito. Reside em Oxford, no Reino Unido, onde vem focalizando as políticas de mudança curricular e a promoção do conceito de slow school.

Maurice Holt em 1978 publicou um livro chamado “The Common Curriculum: Its Structure and in the Comprehensive School” onde ele considera a importância dum “currículo abrangente que permite que a escolha seja feita entre grupos de matérias, me vez de entre disciplinas isoladas, fazendo uso de uma ampla variedade de estratégias de ensino”, livro esse que foi um marco inicial para o movimento de currículos integrados na Inglaterra. Essa visão decorre de um pensamento de Holt sobre a mecanização do processo educacional[1] e no que ele mesmo classifica como “camisa-de-força curricular”. Sua ênfase educacional procura desenvolver um ambiente curricular que focalize a qualidade em vez de simplesmente quantidade de informações adquiridas. O termo “slow school” decorre da metáfora que o autor faz dos “fast foods” onde as escolas que ele considera problemáticas seguiriam o “modelo hambúrguer de educação”.

Neste capítulo Holt apresenta inúmeros argumentos que defendem uma visão mais “desacelerada” da educação. Para ele tanto a sociedade como os próprios pais são orientados e incentivados pela conjuntura mercantilista a se “preocupar com o rendimento do filho, não com sua realização pessoal”. Holt sustenta uma visão mais humanista e prática da educação, visão essa que é constituída pelos ideais culturais e ambientais frutos duma influência descrita pelas percepções sistêmicas da realidade.

Para o teórico, acreditar numa educação mais válida para a sociedade, para o indivíduo e para o ambiente é pensar numa educação que se desvincule das exigências duma sociedade “fast” que desconsidera todo o arcabouço cultural construído ao longo de eras e que vive num frenético movimento em prol de acúmulos[2]. Esses imperativos se processam internamente no contexto educacional pela criação de “conteúdos específicos” e metas bem determinadas com padrões elevados de produção e resultado.

Para Holt, ao contrário desse atual percepção, a escola é um ambiente para os estudantes desenvolverem a mente, para ele “a educação e qualidades como criatividade, vitalidade, motivação, entusiasmo e compaixão são bens culturais” e que, portanto não podem entrar num escopo quantitativo e nunca poderão ser “pesados e medidos”, ou seja, não existe assim necessidade dum sistema educacional fechado baseado em conteúdos específicos e que dependesse diametralmente de resultados pontuais com a capacidade de desencadear um processo seletivo e classificatório.

Holt ainda afirma que apesar de toda essa valorização aos currículos específicos e quantitativos não existe “nenhum estudo que ampare essa visão e muitos ainda sugerem que isso não é educação”. Para ele a slow school, ao contrário, vem viabilizar uma enormidade de demandas societárias e ideais comunitários como a construção dos valores de respeito, civilidade, sustentabilidade e apreciação, além de criar um ambiente de maior aproveitamento do conhecimento. Na slow school “o aluno aprende um pouco de teoria sobre o que ele quer fazer, mas esse conhecimento está inserido na prática e é o que dá vida prática. A fast school, (…), é bem diferente – é como a fast food em que a teoria é separada da prática”. Ou seja, o processo da slow school apesar de ser “slow”, por se deter em diversas atividades práticas e socializações, apresenta resultados qualitativos sem iguais seguindo o velho ditado “a pressa é inimiga da perfeição”.

Um ponto de tensão então que surge sobre à slow school seria quanto as suas “prestações de contas”. O primeiro aspecto levantado em resposta seria a responsabilidade que os agentes e promotores da slow school teriam de ter. A confiança é um item fundamental nesse processo, mas precisa ser conquistada. Outra solução que acaba sendo uma característica inerente e marcante dessa proposta é uma avaliação que se detém sobre o processo. Ao contrário da fast school a avaliação tem a ver com um “relato” e é progressiva, para Holt a “slow school é uma narrativa, uma prática deliberada que orienta a narrativa da prestação de contas.

Holt finaliza argumentando que “o currículo não é então uma questão de aplicar respostas predeterminadas, mas de resolver esses problemas interativos de maneira a beneficiar todos os estudantes, usando o método de deliberação”.

Ver também

http://www.ecoliteracy.org/

http://www.ecoar.org.br/website/


[1] Em especial no EUA e Inglaterra.

[2] Entende-se por “acúmulos” todas tentativas de aglomerações da atual sociedade como dinheiro, recursos naturais, capitalizações, bens, entre centenas de outros.

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