Por Renan Lima, da Revista Cásper. Texto original publicado aqui.
Professora, pesquisadora, coordenadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) da Cásper Líbero e mãe de dois filhos, Michelle Prazeres está tendo muitas coisas para fazer nesta quarentena. Para ela, que está em isolamento social, o mundo parou, mas as demandas não — algumas aumentaram inclusive. Não se gasta mais tempo em deslocamentos, mas ele acaba todo realocado em tarefas domésticas e no aumento da carga de trabalho. “Como desacelerar neste momento, então?” Foi essa pergunta que norteou a sua conversa com a professora Helena Jacob na live sobre “Tempo, aceleração e comunicação” desta quarta-feira (27).
Adepta do movimento slow e idealizadora da rede Desacelera SP, que defende uma relação sustentável com o mundo ao nosso redor e com nós mesmos, o que inclui reflexividade, consciência e autoconhecimento, entre tantas bandeiras, Michelle aponta que desacelerar não tem a ver com parar. “É estarmos atentos ao que estamos vivendo, recuperar nossos sentidos, recobrar nossa humanidade”, explica. E o fato de muitos de nós termos nossas rotinas migradas para dentro de casa, sem deslocamentos, “parados”, não contribui necessariamente para a diminuição do ritmo. Acaba que o efeito é o oposto: a mediação das telas e da tecnologia para contatos que antes eram presenciais aumenta a nossa aceleração.
Para Michelle, é uma ilusão vivermos na espera por um depois em que tudo voltará ao normal — ou “novo normal”, expressão que ela rechaça, porque mais do que normalizar, “é uma tentativa de normatizar uma situação que não fazemos ideia de como será no futuro”, argumenta. Essa é a principal questão que vivemos hoje nesta espera, a incapacidade de antecipar o amanhã. Em uma pandemia, tudo o que temos agora é o durante, e se não o preenchermos de vida e apenas o tomarmos como um tempo perdido, nossa ansiedade coletiva só cresce. E, o pior, como vivemos uma crise sanitária provocada por uma doença altamente infecciosa, se acelerarmos de uma vez quando começar a reabertura, aceleramos também o número de óbitos. Por isso, Michelle é categórica: “Desacelerar é a única saída que nos resta como humanidade”.
Nesse sentido, a desaceleração tem a ver com uma tomada de consciência. É se perguntar quando a velocidade cabe e quando não, o que serve para a comunicação também. A professora e jornalista, por exemplo, tem dias que simplesmente precisa não ver notícias, já que a enxurrada de informações às quais somos submetidos prejudica a percepção do aqui e agora. Elas reforçam nossas estruturas mentais que buscam a todo tempo uma resposta, uma luz no fim do túnel, quando o momento é de incerteza para todos. Uma vez que se consegue ser monotarefa (fazer uma coisa de cada vez) e exercitar a atenção plena, fica mais fácil desenvolver a flexibilidade e até melhorar a produtividade.
Mas sem pressão. “O desacelerar é uma proposta de escolha individual, mas também é um ideal como saída coletiva. ‘Ai, meu Deus não consigo desacelerar, o que eu faço?’. Calma, respira, não é mais um peso na sua vida. O desacelerar é também acolher todas as condições humanas e buscar um equilíbrio”, finaliza Michelle.
Às segundas e quartas-feiras, às 18 horas, a Faculdade Cásper Líbero realiza a primeira rodada de conversas ao vivo sobre “O futuro da comunicação pós-pandemia” no Instagram da Revista Esquinas. A iniciativa é uma parceria do CIP com o Núcleo Editorial da Cásper Líbero para a produção de lives com professores da Faculdade sobre temas relevantes relacionados às suas áreas de atuação, buscando compreender o cenário da comunicação diante dos desafios apresentados pela pandemia do novo coronavírus. A próxima convidada será Cândida Almeida, que falará sobre “Arte e mídias sociais em tempos de covid-19”. O encontro está marcado para segunda-feira, 1º de junho.