Negócio Social é o futuro do empreendedorismo no Brasil

Houve um tempo em que o sonho das pessoas era trabalhar em grandes corporações, ostentar crachás de multinacionais e distribuir cartões de visita onde a logomarca representava produtos e serviços que foram pensados para gerar ganhos financeiros altíssimos. Isso pode estar ficando para trás. O modelo tradicional de negócios que visam apenas o lucro está ultrapassado e já começamos a ver mudanças tanto dos profissionais quanto das empresas e consumidores. Texto original publicado na agência IN.

Ainda que os profissionais de hoje queiram sim ganhar dinheiro e ter uma carreira promissora, a cada dia, vemos mais pessoas questionando-se sobre o seu papel na sociedade. Mais do que isso, eles querem se identificar de fato com as causas das empresas que representam. Do ponto de vista do consumo, estamos também vivendo um momento de transição em que a sociedade está, paulatinamente, exigindo do mercado uma postura mais comprometida com relação à sociedade e ao meio ambiente.

Esses fatores por si só estimulam o surgimento de empreendimentos mais responsáveis e interessados no impacto positivo na sociedade. São os chamados negócios sociais, que surgiram nos Estados Unidos, quando empresas observaram que era possível exercer atividades tradicionalmente realizadas por ONGs com características de negócio lucrativo. Essas organizações tiveram tanto êxito em seus propósitos, gerando lucro inclusive, que inspiraram pessoas em outros países.

No Brasil, o negócio social está apenas começando. “O movimento de negócio social em si começou a ganhar espaço há apenas cinco ou seis anos e têm sido impulsionadas pela atuação de incubadoras especializadas, como a Yunus, e também pela difícil situação econômica, em que as pessoas acabam buscando empreender na ausência do emprego formal”, explica André Palhano, especialista em sustentabilidade da Rede de Repensadores e idealizador da Virada Sustentável.

Há uma geração de profissionais chegando agora aos cargos de nível gerencial e que cresceu num ambiente onde essa exigência já era real. “Esses profissionais enxergam o empreendimento social como uma oportunidade de negócio e carreira. Eles estão desenvolvendo esse mercado e criando modelos rentáveis e, ao mesmo tempo, satisfazendo suas necessidades de engajamento em causas sociais”, diz Erich Burger, especialista em gestão de resíduos da Rede de Repensadores e fundador da Recicleiros.

Mas afinal, o que é um negócio social? Segundo André e Erich, de maneira geral, essas organizações se caracterizam por:

Atividade principal deve ser gerar impacto positivo na sociedade e no meio ambiente
Mais do que uma atividade paralela, a empresa deve nascer com a finalidade de atender alguma demanda social. A ‘Recicleiros’, por exemplo, foi criada para oferecer soluções para gestão sustentável de resíduos. A responsabilidade social e ambiental está na missão da empresa.

Ter saúde financeira inerente ao modelo de negocio
A organização pode ser uma ONG, uma empresa privada ou uma cooperativa. O modelo não importa desde que ela possa gerar receita por conta própria. Essa receita deve ser maior que o custo operacional, ou seja, não pode dar prejuízo e nem depender de filantropia.

Oferecer soluções para a base da pirâmide
Independente do seu produto ou serviço, a organização deve prover algum tipo de benefício para esse público. A ideia aqui não está relacionada apenas com o consumidor final, mas também com os beneficiados durante o processo. Essas soluções podem ser: geração de empregos, capacitação e profissionalização etc.

Gerar lucro, mas não distribuí-lo
Todo lucro deve ser reinvestido no negócio com o objetivo de ampliar os impactos positivos. A organização deve ser capaz de manter uma estrutura adequada para oferecer produtos e serviços competitivos (qualidade e preço), inclusive com profissionais remunerados de acordo com o mercado.

5 MITOS E VERDADES EM TORNO DOS NEGÓCIOS SOCIAIS

1. Empresas com programas socioambientais são consideradas ‘negócios sociais’ – MITO
Para ser considerado um negócio social, a principal atividade da empresa deve estar voltada em gerar um impacto positivo. Ela deve nascer com esse propósito. Por exemplo, uma mineradora que possui um programa de investimento educacional na população da região que está inserida pode ser vista como uma empresa com responsabilidade social, mas não um negócio social propriamente dito.

2. Trabalhar com negócio social não gera lucro – MITO
O negócio social deve gerar lucro e manter desempenho de crescimento. É fundamental que a organização ofereça soluções igualmente competitivas, pague suas contas em dia e que sobre dinheiro para reinvestir no negócio. Seu compromisso é gerar lucro para aumentar o impacto social e não apenas para distribuir entre os investidores e acionistas.

3. Produtos e serviços com perfil social geram empatia – VERDADE
As pessoas se sentem mais abertas com empresas de perfil social. As pessoas querem consumir de empresas com as quais se identificam. Não querem mais empresas que exploram e só visam o lucro. As pessoas enxergam exatamente o perfil das empresas atualmente. As pessoas não aceitam qualquer discurso de marketing, o consumidor está mais crítico e sabe qual é o real objetivo das grandes empresas. Advento das mídias sociais não permite que se use um discurso que não se aplica.

4. Funcionários de empresas voltadas aos negócios sociais não são bem remunerados – MITO
Como em qualquer negócio, é preciso gerar receitas necessárias para se pagar bem os colaboradores. A causa pode ser o interesse principal dos profissionais, mas eles precisam ser remunerados adequadamente. A ideia de baixa remuneração passa longe do modelo de negócio social.

5. Sociedade está restringindo o mercado de empresas que visam apenas o lucro – VERDADE
As empresas precisam atender a demanda do mercado. Não adianta remar contra a maré. Se as empresas não se adaptarem a essa nova mentalidade, elas vão perder espaço naturalmente. As pessoas vão perdendo a identificação com as grandes corporações que visam apenas lucro. Elas querem se sentir mais próximas, se identificar com as causas e ter um atendimento mais individualizado e humanizado onde não se sintam apenas um número.

(Redação – Agência IN)

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