Ninguém deveria se orgulhar de trabalhar muito

Uma semana antes: “Vamos almoçar na quinta?”, escrevo. “Claro!”, ela responde. Um dia antes: “Amiga…”, diz a mensagem. Os três pontos revelam tudo. Ela vai cancelar… E assim seguimos, até que um mês e meio depois, espremendo a agenda de uma dali, puxando a da outra daqui, conseguimos nos sentar as duas juntas numa mesma mesa para comer e bater papo. E se alguém aí está pensando que quem quer mesmo se ver faz um esforcinho, desculpe, mas sabemos que nem sempre é assim. Texto replicado no Brasil Post, original de  |  De Ludmila Vilar.

O assunto não é novidade e centenas de reportagens já falaram que estamostrabalhando demais e aproveitando de menos. Também já sabemos que mesmo a tecnologia, que muito ajuda no trabalho (jornalistas que o digam), às vezes muito atrapalha.

Um exemplo do revés do desenvolvimento do mundo digital é o aparecimento de uma síndrome chamada FOMO, que em inglês significa “Fear of Missing Out“. Em bom português seria algo como “medo de perder alguma coisa”. A FOMO nada mais é do que uma reação ao ritmo incessante com que as informações chegam até nós pela internet. Com tanta coisa para saber, ler, assistir, ouvir, como não ter medo de perder alguma coisa?

A tecnologia, o trânsito de algumas metrópoles, a pressão de uma economia global, o ritmo insano dos escritórios, tudo isso nos faz mais cansados. Então, por que não trabalhar menos para render melhor? Parece contraditório mas é nisso que a Suécia está apostando. Argumentos não faltam. Em agosto, a revista científica Lancet, uma das mais importantes do mundo em seu segmento, divulgou um estudo que acompanhou cerca de 600 mil pessoas por cerca de sete anos.

A tecnologia, o trânsito de algumas metrópoles, a pressão de uma economia global, o ritmo insano dos escritórios, tudo isso nos faz mais cansados. Então, por que não trabalhar menos para render melhor? Parece contraditório mas é nisso que a Suécia está apostando. Argumentos não faltam. Em agosto, a revista científica Lancenet, uma das mais importantes do mundo em seu segmento, divulgou um estudo que acompanhou cerca de 600 mil pessoas por cerca de sete anos.

Entre os que trabalhavam 55 horas por semana ou mais, a ocorrência de derrame cerebral foi 33% maior do que entre os que tiveram jornada de 35 a 40 horas por semana. A incidência de doenças cardiovasculares nessas pessoas também foi 13% mais alta. Outro estudo revelou um dado dramático para as mulheres: as que trabalham cerca de 49 horas semanais estão mais propensas a transtornos mentais.

Com isso em perspectiva, algumas empresas suecas já começaram a adotar a jornada de seis horas diárias – 30 hs semanais – de trabalho. É o caso da Filumundus, desenvolvedora de aplicativos baseada em Estocolmo, onde os funcionários hoje trabalham duas horas diárias a menos do que no ano passado.

“Ao mesmo tempo, temos dificuldades em gerir a nossa vida privada fora do trabalho “, disse o CEO da empresa, Linus Feldt, ao site Fast Company.

Para compensar o corte de horas, foi pedido aos funcionários da Filumundus que não entrassem nas redes sociais durante o expediente e que evitassem outras distrações. As reuniões também foram reduzidas ao mínimo. Feldt garante que não só a produtividade permaneceu igual, como os pequenos conflitos do dia a dia diminuíram e as pessoas estão mais motivadas. “Na verdade elas estão mais felizes e descansadas.”

Outro exemplo sueco de menos horas trabalhadas vem dos centros de serviços da Toyota na cidade de Gothenburg, onde a jornada de seis horas foi adotada há trezes anos. Desde então, a troca de funcionários diminuiu e o lucro cresceu em 25%.

A verdade é que começamos a “trabalhar” demais desde muito cedo, já quando se inicia a vida escolar. Devido aos horários insanos nos quais as crianças entram na escola, recentemente o professor Paul Kelley, do Instituto do Sono e Neurociência de Oxford, na Inglaterra, declarou ao jornal The Guardian que estamos em meio a uma real crise de privação do sono.

“A privação do sono é um grande problema da atualidade, mas afeta especialmente o grupo entre 14-25 anos. Dormir pouco é uma grave ameaça ao humor, à capacidade de render e à saúde mental”, diz o professor. Segundo ele, apenas crianças entre 8 e 10 anos e adultos após os 55 se encaixam bem nessa vida em que os expedientes começam às 9h e terminam às 17h. O professor defende que pessoas entre 10 e 16 anos comecem seus dias às 10h e as que tem 18 ou mais, a partir das 11h. Para cada fase da vida, o corpo tem um ritmo.

A verdade é que tudo isso faz muito sentido nesse texto, mas sabemos que dificilmente a maioria das empresas concordariam em postergar o horário de entrada dos funcionários ou diminuir a carga horária de trabalho. As escolas das crianças não abririam mão do horário das 7h às 12h. Também sabemos o quanto se sofre – e se perde -com isso.

Como dizia o pai de uma querida amiga, “quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro”. Seu Edson foi um grande comerciante. E os alemães estão aí para provar a teoria dele na prática. Eles construíram um dos países mais ricos do mundo com uma jornada semanal de trabalho bem menor do que a nossa: 35 horas lá contra quase 41 aqui. Já a diferença entre a rica Alemanha e a combalida Grécia em horas trabalhadas por ano é gritante: 671 a mais para os hoje pobres gregos. Ou seja, o segredo está na produtividade e não no tanto de horas que você rala. Lembre-se disso quando ouvir alguém dizer, orgulhoso, que é um workaholic.

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