O lixo não some, só muda de lugar

O lixo não some, só muda de lugar

August 17, 2018 0 By Mi Prazeres

Estive no Fórum Municipal de Lixo Zero no dia 1 de agosto e, naquela mesma semana, resolvi colocar a lata de lixo na lavanderia. E não foi por estética (ela até combinava com a minha cozinha). O que me incomodou naquele dia foi…o conteúdo.

“Sim, eu produzo lixo!”

Repeti essa frase para mim mesmo, não conseguia me livrar do assunto.

Corri no tempo e lembrei do lixo na infância. Eu via minha mãe retirar o saco preto e fechá-lo , dizendo ‘fique longe daí menino! Isso é lixo, não mexe”. E aquele pequeno (nem sempre) saco sumia. Nos anos 90, o lixo começou a sair de casa em sacos de supermercado, o que barateava um pouco as compras, mas o lixo era o mesmo.

Minha mãe sempre foi muito cuidadosa com a natureza. O quintal em torno da casa tinha muitas plantas e ora ou outra ela ganhava restos de comida das amigas, coisas para fazer adubo. Eu achava engraçado e assistia minha mãe enterrar aquilo. Era a tal da compostagem. Elas já sabiam e já faziam isso. De coleta seletiva, nada, nunca ouvi falar disso na minha meninice.

Quando me mudei, em janeiro desse ano, adorei saber que meu novo prédio faz coleta seletiva. Catadores, uma vez por semana, entram, separam e levam. Morei no centro de São Paulo durante uma década e ouvia os moradores do antigo prédio dizerem que não havia espaço para separar lixo num edifício tão antigo. Eu também não ‘conseguia’ tempo levar o lixo até um espaço de coleta seletiva. Mas é uma questão de prioridade, a gente não acha tão importante assim cuidar do lixo, no fim das contas.

Fato é que agora minha lixeira está lá na lavanderia, mas não consigo esconder o problema, ele está na minha cabeça porque eu sei que o lixo não some, só muda de lugar. O que sai do planeta, fica no planeta. Então optei, junto com meu companheiro, por organizar o lixo e entender o que facilita a reciclagem. Ainda não conseguimos imaginar uma composteira por aqui (talvez seja um passo de cada vez) mas sabemos que o lixo precisa de cuidados, separação e destinação. Comecei também a pensar no que consumo, no que entra na nossa casa, no que faz parte do nosso dia a dia e o que alimenta nosso corpo. Encarar o lixo é como olhar para dentro de si.

Agora, quando passo pela lavanderia, até parece que a lixeira está olhando para mim. E tudo bem. Eu também estou olhando pra ela.

Artigo Casa Causa, por Eduardo Alves, dos Narradores afetivos – escritores garimpando conteúdos com sentido.

*Este artigo é resultado da (des)cobertura afetiva do Fórum Municipal Lixo Zero 2018.