A religião do crescimento

Por Carolina Ribeiro*

 

Uma das primeiras discussões acerca do desenvolvimento sustentável ocorreu no ano de 1972 em uma Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano na Suécia. Esse foi um dos primeiros grandes marcos para a luta na preservação ambiental. A tentativa de colocar essa pauta no cenário mundial era unir a ideia de continuar o aumento na produtividade mas também pensar na preservação da natureza. A partir desse ponto se intensificaram discussões sobre preservação ambiental, e importantes ao ponto da ONU continuar trazendo esse tema com realização de conferências anuais para tentar achar soluções para alguns desses problemas, como foi a Eco-92.

 

Quando o economista Serge Latouche se opôs a ideia de desenvolvimento sustentável, que era a moda naquele início dos anos 2000, e colocou a questão econômica em segundo plano chocou o mundo pelo seu pensamento radical de decrescimento do mundo. Sua visão crítica pensa na contradição que é o crescimento sustentável . O que ele chama da religião do crescimento é uma crise de valores onde o pensamento cultivado pela sociedade que é focado na alta produção e constante consumo. Sua conclusão é simples: “um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”.

 

O sistema atual de consumo é inviável a longo prazo. Hoje se vive para a posse de produtos, isso deixa de lado a forma produção e quais foram os custos para além do financeiro. Serge Latouche entende essas ideias como uma forma quase religiosa, onde esses novos valores sagrados são aqueles que vem do dinheiro. Para ele o problema não é o capitalismo, e sim sua maneira limitada de trazer soluções, ou seja, esse sistema precisaria ser reformulado.

 

De forma individual, o economista vê a necessidade de diminuir a fabricação e a compra de produtos de forma mundial, para resultados concretos em reprimir a destruição do meio ambiente. A realidade do uso excessivo da matéria prima já tem consequências permanentes, como extinção de espécies animais e vegetais. No futuro não tão distante poderá ser ainda mais comum essa situação caso não haja mudanças significativas hoje.

 

Latouche parece utópico em sua maneira de criticar a sociedade atual, mas vê reais possibilidades para acontecer a mudança. Exemplos concretos como mudança da produção agrícola de alta produção para uma agricultura ecológica e campesina. Para o francês, além da melhora ambiental também haveria melhora na qualidade dos produtos. Ele também pensa nos benefícios que a sociedade teria em se tornar frugal, um estilo de vida e principalmente de alimentação, como uma meta ecológica.

 

Um pensamento para longo prazo, para existir esse futuro, Serge Latouche enxerga que sem mudanças no presente, os dias estão contados para o colapso da natureza nesse sistema.

Como o economista já disse o capitalismo foi feito para as crises, econômicas e sociais. Pagar o preço pelo dano ambiental apenas quando estiver diretamente o afetando, essa vai ser a real crise e poderá ser tarde demais.

 

* Carolina Ribeiro escreve como colaboradora do Desacelera SP. Os textos são de sua autoria e não refletem necessariamente o pensamento da nossa iniciativa.