Escrita afetiva

September 16, 2018 Off By Mi Prazeres

A escrita afetiva é a construção onde deságuam tantos movimentos…

O olhar-ver-organizar-colocar no mundo-colher-abrir pra receber-transformar-rever

 

De comunicar.

De relacionar.

De construir redes e pontes.

De agregar.

De valorizar o humano das pessoas.

Os vínculos. Os afetos. As conexões.

 

A humanidade. De ver beleza no humano. De ver divindade nas pessoas. De ver humanidade nas coisas. E descoisificar a vida. E de ver o invisível. Estes fios que tecem as relações.

 

E o nomear.

E quando nomear, não encaixotar em um sentido único. Mas libertar em sentidos múltiplos, que vão além da observação e da racionalidade.

Pensar o olhar.

 

Sentir o olhar. Transformar o olhar.

Deixar o olhar compreender o visto. Permitir que o visto transforme e transborde o olhar.

Sentidos que às vezes são tão íntimos, que provocam identificação com quem entra em contato com algo produzido deste jeitinho de fazer que a gente ainda não sabe se é uma lente, uma postura, um manto ou uma aura.

É uma prática.

 

Mas é algo que envolve. Está contido em nós e nos contém quando nos propromos à tarefa de lançar este olhar de desolhar e reolhar. Para rever e reconhecer. Para envolver. Para relacionar. Conectar.

É conter este olhar e olhar, refletindo sobre como este olhar vai se construindo também na medida em que nos propomos a vestir este olhar para olhar o que está em movimento.

É também deixar-se olhar pelo objeto olhado. E através dele.

E contar uma história sobre tudo isso.

Sobre o que é olhado, o entorno, o que se move dentro de nós quando olhamos e o movimento que surge do olhar-ver(-se)-contar(-se).

 

Um movimento de profundidade, abertura e generosidade.

 

Tem sido tão bonito.

Tão tocante tocar.

Tão grande crescer com as vivências.

Tão honroso poder estar neste lugar.

Tão gratificante receber abraços ternos e agradecimentos sinceros por despertar consciência por meio da ativação da comunicação como este processo de reconhecimento e compreensão.

Tão lindo apoiar as pessoas a atribuírem ou reconhecerem significados em coisas simples.

 

Tem sido emocionante perceber a potência de uma escrita que honra o envolvimento para pensar na relação humana do escrevente e enunciador com o objeto de sua escrita, entendo este objeto como parte (viva) deste ser vivo que olha e é olhado e que está atento a seu olhar.

 

É perceber o processo que valoriza a consciência da importância de mobilizar afetos, sentidos e humanidades para se relacionar com o objeto da escrita.

 

Tem sido desafiador construir algo que é divergente.

Que requer tempo, atenção plena, percepção aguçada pelas janelas da visualização além dos olhos em um mundo onde tudo corre e escorre pelas mãos e escapa ao olhar.

A essa qualidade de olhar.

Porque o fluxo despista a percepção.

 

Tem sido poético escrever com tempo para encontrar o texto que pediu para ser escrito e que está em conexão com o belo e com o divino de ser humano e que por isso tem uma poética singular. Que nem sempre está na forma. Porque nem sempre conseguimos dar forma a algo tão íntimo.

 

Tem sido tocante escrever com tempo para encontrar o corpo no texto; corpo que se relaciona com outro corpo, que toca e envolve objeto, espaço, lugar e tempo.

O corpo toca o escrevente e o escrito e o leitor. Dá arcoragem ao lugar pelo qual vamos nos transformar na escrita que virá em impulsos.

 

Tem sido um lindo diálogo escrever o que requer vivência, pulso e troca para fazer sentido.

É na troca que tomamos consciência das histórias que brotam da (auto)observação.

 

Tem sido

Tecido

Tenso

 

Mi Prazeres