Tempo, tempo, tempo…

Quem nos ensinou sobre o tempo? Sobre a pressa, sobre a duração de tudo que vivemos e conhecemos? O que sabemos sobre nossos próprios tempos e o quanto vivemos harmoniosamente no tempo que temos? Uma reflexão de Luciana Carvalho, doula e educadora. Texto original publicado aqui.

Há dias tenho ganhado consciência sobre como vivo os tempos em minha vida e percebi uma coisa engraçada…

Sou bastante tolerante quando os outros estão compartilhando do meu tempo, não controlo o tempo e por vezes desrespeito o tempo que tenho;

Sou muito intransigente comigo mesma quando utilizo o tempo do outro, me incomoda muitíssimo chegar atrasada ou ficar mais tempo do que o esperado, um medo de roubar do outro seu tempo…

Refletindo sobre isso cheguei a uma resposta bastante significativa, que acredito que servirá para muitas pessoas.

Sei o quanto a experiência do nascimento deixa registros em nossas células e o quanto somos guiados a partir destas memórias, partindo disso eu pergunto:

O que significa nascer de um parto agendado ou de um parto acelerado? Controlado por um tempo que não é o seu e de  necessidades que não são as suas?!

Minha mãe me esperava para nascer no começo de fevereiro e a cesárea já estava agendada, no entanto, eu dei os sinais de que eu já queria vir para este mundo, muito antes do esperado, no final de janeiro, e por medo ela optou por uma cesárea.O fato é que não nasci no meu tempo, no tempo que precisava! Nasci acreditando não ser merecedora de tempo e hoje corro contra ele.

Descubro o quanto esta experiência me deixou  registros que me angustia, me desrespeita e reproduz o mesmo padrão de comportamento pelo qual fui recebida neste mundo.

Ter nascido de uma cesárea, sem ter passado por todo o trabalho de parto e no meu ritmo  fez com que eu vivesse sempre o tempo  para os outros, desrespeitando, muitas vezes, os meus próprios ritmos.

O fato é que me incomoda muito as regras de horários, tenho dificuldade de chegar na hora e sempre me sinto na obrigação de dar justificativas por não ter cumprido o horário que o outro estipulou, sinto-me sempre desmerecedora do tempo que preciso para as minhas necessidades.

Você também se sente assim?

Como foi seu nascimento?

Como esse fato se repete constantemente em sua vida?

Como você reage quando essa memória é ativada?

Hoje eu havia marcado um almoço de família e fiquei de chegar por volta das 10h30, mas internamente eu precisava de mais tempo, eu queria fazer outras coisas antes de chegar neste compromisso  e quando me dei conta estava atrasada e isso ativou em mim uma enorme raiva, culpei o marido pelo atraso, culpei o mundo pelo atraso e fiquei remoendo esse sentimento, um sentimento de que eu não tinha o direito de não chegar no horário que os outros me esperavam…no caminho me perguntei:

– Mas por que? Por que eu não poderia chegar no horário que eu quisesse?

A resposta que veio foi:

– Eu não acredito que mereço ser respeitada no meu tempo!

Hummm….

Dei-me conta que sempre sonhei com um mundo sem tempos e sem relógios, mas hoje percebi que o problema não é esse, o grande problema que me aflige, pois me faz lembrar de como cheguei a este mundo é o uso que as pessoas fazem dele por interesse próprio, sem o mínimo de respeito pelo tempo do outro.

Com essa consciência fui meditando pelo caminho, afirmando meu merecimento em usufruir de todo tempo que eu precisasse para viver o que considero importante e, incrivelmente, quando eu cheguei, diferente de todas as outras vezes, ninguém falou nada e nem fez piadinhas sobre o “atraso”, inclusive eu!

A verdade é que eu já não me sentia mais atrasada, senti, verdadeiramente, que havia chegado na hora certa!!!

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